José Rodrigues
O José é viseense e dos grandes. Autor dos romances "O Rio de Esmeralda" e "Voltar a Ti"; e de "Boas Memórias de Um Mau Estudante". Foi Oficial do Exército Português e é licenciado em Gestão. Apaixonado pelo Karaté (cinturão negro), praticante de natação e futebol veterano.
A família e os amigos complementam o seu enorme gosto pela escrita... E que bem que escreve!
ANDAR NAS NUVENSTer o coração bem junto à boca, quando o motivo é a paixão, é um fenómeno tão bom quanto difícil de descrever. Sentir que, daqui a pouco, vamos encontrar alguém por quem estamos apaixonados, consegue fazer com que o coração saia do seu lugar e se encoste bem junto à garganta. Esta viagem imaginária que faz o órgão vital tem exatamente a mesma duração da paixão. Tem também, pelo menos, dois passageiros. É uma viagem fabulosa, com paisagens impossíveis de descrever, tal a beleza com que os olhos dos viajantes a vêem. Queremos viajar a todas as horas, a todo o instante. O único meio de transporte são mesmo as nuvens, onde fazemos questão de poisar todo o corpo. Um meio de tal forma saboroso que nos faz esquecer que, a qualquer momento, um dos passageiros pode resolver não mais viajar. E dói voltar a colocar os pés no chão. Dói ainda mais sentir que fica um caminho deserto entre o peito e a garganta e sentimos que, de uma forma teimosamente duradoura, o coração se recusará a querer voltar a fazer esse percurso. E é neste momento que se paga o bilhete sobre a forma de insónias, piques de mau humor ou vontade de nada querer ou fazer. Quando alguém mais velho ou experiente nos tenta confortar através de frases como "isso passa com o tempo", discordamos de todos os termos. Na verdade, passamos a achar que o tempo passou a ser medido por um relógio de corda que parou.
©Arquivo Pessoal do Autor







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