Márcia Augusto
Quem não conhece não sabe o que perde. A Márcia tem um sorriso contagiante e verdadeiro. É apaixonada pelo Baltasar – o Sete-sóis – de Saramago.
Licenciada em Ciências da Comunicação, pós-graduada em Marketing Digital, terapeuta e estudante de Filosofia. É autora do livro (Chiado Editora) e do blogue “Elas do Avesso” . Todos os dias publica nas suas redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube). Visitem, façam like e recebam coisas boas.
“Gosto de ter escolha. Gosto de virar tudo do avesso. Gosto de chorar e de ter medo que as coisas não resultem. (...) E descobrimos uma claridade que nos manda para outro lugar qualquer. Fora do mundo, dentro dele. Não sei. Fora do mundo pequenino em que, às vezes, nos enganamos e escolhemos para viver. (...)
Os comboios versam sempre mudanças de estado, passagens de um lugar para outro lugar. E, dentro, cruzam pessoas, as vontades, os desejos, as intenções e os sonhos... mas também as aflições, os pensamentos maus, os medos. E mostram-nos que tudo passa... tudo anda, mesmo sobre ferros sujos. Anda, porque tem de andar. (...)
Elas do Avesso
©Arquivo Pessoal
Amor VS Cabana?
O Amor. O amor sempre ramifica, para cabanas ou não, mas, e acima de tudo, para construções de nós, nós dentro. Acho que é isso que o amor faz. A cabana é só uma expressão física ou não. O Amor, o amor é mais do que isso tudo. O Amor é um unicórnio vestido de pessoa, é a ideia mais perene de todas, o conceito mais lúcido de todos… é por isso que o Amor atravessa séculos de História, da mais refinada ou esotérica filosofia… mas o Amor, o amor sempre constrói. As cabanas vêm abaixo.
"Tal mãe" VS "Tal filha"?
Tal filha. O efeito sempre pode degenerar, no bom sentido… o efeito não vive escravo, qual estética naturalista… a filha é livre, não vive vassala da causa fechada, a Mãe. O ventre cria, a Filha reconstrói e apropria-se.
Reunir VS Fazer?
Reunir, sempre reunir. Reunir traz por si o fazer. Fazer – ativo -, sem a componente criadora, impulsionadora do passivo que reúne, é vazio. Reunir sempre nos envia para a Unidade, parece-me que é de lá que nós vimos.
Vaidade VS Empreendedores?
Empreendedores, sempre. A vaidade é um grande impeditivo à criação. A vaidade é um grande mal para mim, para todos. A vaidade tolda os olhos, engana os sentidos e, por isso, falseia a intuição. A vaidade é um espelho de criações do ego. O ego gosta de heróis, os empreendedores gostam de criar, de deixar o mundo diferente… é por isso que empreendem. Se me perguntassem porque estou no mundo, diria que tento deixá-lo diferente. Faço esse exame todas as noites. O que fiz hoje para deixar o mundo melhor? É aí que o empreendedorismo vale. É fácil cair no tule sedento e sedutor da vaidade da obra, mas há que saber que não fazemos nada sozinhos, mesmo que pareça que sim. Mesmo quando trabalhamos sozinhos, contamos com o Universo todo. Quero acreditar nisso, acredito muito nisso. Pensar que poderia fazer tudo o que faço sozinha seria por demais assustador. Sim, empreendedores. Empreendedores criam. Se forem vaidosos, o mercado acabará por selecionar, por separar o trigo do joio. Ser vaidoso é fácil. Resistir ao fracasso e criar é outra coisa. Ninguém acerta à primeira, por muito que a comunicação social nos pinte unicórnios hollywoodescos, isso não é real. Acho que é por isso que tanta gente se envolve no empreendedorismo, mas facilmente larga ou passa de projeto para projeto… empreendedorismo significa criar filhos… e os filhos têm temperamentos, reagem ao meio adverso, choram, quebram, esfolam os joelhos… podemos escolher ser mães de crianças de joelhos esfolados, curá-las, aguardar que fiquem prontas para a próxima corrida ou abandoná-las e passar para o “próximo filh próprios, mas é, também e ao mesmo tempo, a maior lição de amor que tive por mim e pelos meus “filhos” (textos, livros, aulas, terapias, cursos… todo o mundo, por um lado etérico, por outro artístico, do Elas do Avesso, enquanto blogue, livro e posicionamento do ensino alternativo do Português e da Filosofia, a par do alavancar da Consciência no Borboletar).
Errado VS Certo?
Eu acho que prefiro o errado, porque o errado nos leva irremediavelmente para o certo. O certo pode ser oco, de arestas fechadas, sem buraco que o salve… estamos aqui para errar, errar muitas vezes. Há uma revista que, creio, não tem tido novas edições, que se chama “Erros” e há um texto de uma edição qualquer que me tocou profundamente… “Os erros certos”. Se não fossem os erros todos da minha vida, provavelmente não estaria aqui agora, provavelmente outra vez, os meus ensinamentos sobre “certo” passariam facilmente para a esfera do esgotável. Não estamos aqui para acertar. Estamos aqui para errar e aprender o certo, o conhecimento que advém do erro. Ninguém aprende a ler à primeira. Querer tudo certo sem erro não é humano, é uma ficção narcisista e de vitrine. Na vitrine expomos o certo… numa montra… tens o sucesso de erros anteriores… pensa num computador, numa peça de roupa na montra… Quantos erros anteciparam o “certo”, o sucesso da máquina, o sucesso do tecido? Somos filhos do efeito, escravos do resultado… o resultado certo… o resultado é só isso, o resultado… o resultado é o fim. A história é o erro.
Do avesso VS Do direito?
Claro que é do avesso. Essa é provocação. O avesso mostra-nos o lado certo, faz-nos conhecer as costuras das coisas… é porque conheço as costuras de mim, a parte “feia”, sombria, escondida do social (porque, mais uma vez, somos apologistas do certo, do direito, do sucesso, da montra do “ ‘tá tudo bem”… basta pensarmos que existem medicamentos para esconder e “tapar”, em asfixia legislada, a tristeza), que posso ser quem sou, tentar pelo menos. Direito? Deus me livre do “direito”.
Homens Rudes VS Homens meigos?
Bom, isso é demasiado extremista, paradoxal, não sei. Nem totalmente rude, nem inteiramente meigo. Outra vez, o equilíbrio entre o ativo – rude - e o passivo – meigo. Não vamos confundir aqui os valores de ativo e de passivo. Ativo no sentido de algo que cria, que é agente capaz de volição no mundo e o passivo que recebe. Se o primeiro semeia, o segundo recebe (acerca dos componentes yin e yang, passivo e ativo). Não dá para antagonizar os extremos, eles estão lá, fazem parte da mesma linha, meramente podemos percorrer o caminho de um extremo para o outro, mas não é possível separar a linha e entrar em paralogismos disjuntivos… ou isto, ou aquilo. Eu preciso disto e daquilo.
©Arquivo Pessoal
Medo VS Sossego?
Nem um nem outro. O medo paralisa, o sossego atrofia, torna confortável, que é, por acaso, aquilo que o medo gosta… ou seja, é porque gostamos de estar confortáveis (sossegados), que temos medo… temos medo do desassossego, da diferença face ao estado inicial. A boa notícia? É inevitável mudar de estado. Ainda assim, se tivesse de escolher, escolheria a atitude de sossego face às mudanças de estado que a vida sempre nos convoca.
Coração VS Angelical?
Há diferença que justifique o antagonismo? Não sei. Coração. Angelical, por ser adjetivo, já determina, qualifica. O coração pode ser muita coisa e assume muitas formas, muitos estados, mas sempre verdadeiros e reflexos do uno. Coração.
Blogger VS Fertilidade?
Fertilidade. Ideias férteis podem criar um blogger, um blogger não cria necessariamente de modo fértil. Fertilidade porque faz crescer, porque alimenta, porque deixa a realidade diferente, porque aumenta. Fertilidade, sem dúvida.
Hoje VS Amanhã?
Hoje, sempre hoje. Amanhã não há. No máximo, há uma ficção dos meus pensamentos face àquilo que pode ser amanhã… e Deus nos livre da ficção e da expectativa. O demónio veste-se de expectativa. O hoje veste a roupa que lhe deram hoje, agora, é mais seguro e é o único possível de amar, de transformar.
Preconceito VS Tolerância?
Sempre tolerância. O preconceito é a atitude mais idiota possível num ser humano. Tudo o que está em desarmonia radica no preconceito, a na ideia anterior à Verdade, na ilusão criada sobre o que é a verdade… preconceitos dissolvem-se, a tolerância pode ajudar nisso.
Nós VS Os outros?
Sempre nós. Não há outros. Quem são os outros, de facto? Há outros? Freud responde e eu acredito. Tudo o que eu vejo no outro está em mim… predicados maus, narrativas boas… se calhar, faz sentido pensarmos no Um… se pensarmos bem, todos os projetos, que foram avante, tiveram e têm como radical e bandeira a união, o projeto enquanto causa, o efeito prendido com o resultado para todos (o conceito de “Todos” só pode caber em nós). Parece-me que andamos distraídos com a falsa ilusão do outro.
Raiz Vs Livre?
Livre. Sempre livre. A verdade é que se eu sou livre, eu vou respeitar a minha raiz, a minha Fonte. Se eu optar por ser só raiz, vou morrer nos predicados que me causam, não vou alargar nada do que a raiz me trouxe. Uma flor que se ficasse pela raiz seria livre? Não me parece… antes e meramente vítima voluntária de um capataz que suprime. Acho que é assim que a maioria de nós vive… e acho que é por isso que há tanto por criar. Não entendemos que respeitar a raiz é honrar a liberdade daquilo que a raiz me pediu para ser. Ter raiz significa ter uma base, uma origem, eu posso fazer com ela o que eu quiser. É aí que o mundo falha. Repete raiz, em vez de a expandir (liberdade).
©Arquivo Pessoal
Estórias VS Verão?
Verão, sempre verão. O verão traz estórias. As estórias são verdes no verão, têm som frutado… as palavras ganham dimensão pictórica no verão. Sempre o verão. Há um verão que narra. As estórias são dele.
Memórias VS Ensinar?
Sempre ensinar. Ensinar cria futuro. Memórias estão lá… no passado. Tiveram o seu papel, mas não são mais, não têm o valor aberto de um presente do indicativo… não trazem nada, esgotam o tempo. Por mim, aboliria o pretérito.
Perguntar VS Responder?
Perguntar… perguntar cria espaço para saber. Responder compromete, fecha círculos de conhecimento. É necessário fechar. Mas eu prefiro sempre a Pergunta, a liberdade infindável da Pergunta.
Teoria VS Ciência?
Ciência, no sentido de conhecimento. Teoria não leva a nada sem prática do conhecimento, isto é, Ciência.
Sorrisos VS Lágrimas?
Vou ser romântica, ou talvez não. Lágrimas. Os sorrisos são bonitos, mas as lágrimas ensinam. Acho que temos uma relação muito má com as lágrimas… são as más da fita… chegamos ao ponto de ter medicamentos para parar as lágrimas, para suster estados de tristeza… acho isso uma atrocidade. Mesmo a flor precisa de se fechar, de lacrimejar dentro de si, para se abrir e nos dar o fulgor da cor, mesmo a flor precisa de se fechar um bocadinho mais à noite, voltar-se para dentro, para a sua própria escuridão… porquê que os humanos teimam em criminalizar as lágrimas? Até porque depois de grandes choros, vêm grandes sorrisos, sensações de relaxamento… sim, temos de chorar mais. Dia do choro. Parece-me bem (que acho que deveria de ser todos os dias… todos os dias há um luto por fazer, como as flores que se fecham e se abrem, renovadas para o dia seguinte. Se chorássemos mais, a conta no bar seria menos dispendiosa. A sério que sim. A da farmácia nem se fala… Mas, sem tristeza, o capitalismo e o negócio não andavam… deve ser por isso. Falo de uma tristeza curada pelo choro livre… que mundo é este onde chorar é errado? Posso rir na rua, mas se chorar em público algo de muito errado se passa comigo… que raio de educação robótica é esta? Cheia de preceitos, de regras do devido em público, de regras de educação que fazem mal à saúde? Prefiro má educação. Avesso e má educação… ora aí está um bom título para um próximo livro…
"Às Vezes" VS "Talvez"?
Às vezes, porque, se acontece às vezes, relega-nos para a ação. O talvez é, muitas vezes, um atulhar de possibilidades por concretizar. O talvez abre, mas o “às vezes”, mesmo que solto, concretiza.
Obrigado, Márcia