Des(Orientação), de João Geraldes
"Dizem que os sonhos comandam a vida." Esta é a primeira frase do livro 'Des(Orientação)' do mais recente autor, João Geraldes.
Natural da grande cidade do Porto, foi onde teve o seu lançamento no dia 29 de setembro deste ano este novo livro, 'o sonho tornado realidade'. Com apenas 28 anos de idade, psicólogo de profissão, João Geraldes propôs-se a retratar em palavras o seu percurso de vida, um percurso marcado por várias etapas.
Quando se fala numa 'saída do armário' por parte das pessoas homossexuais, há sempre paradigmas com que se deparam. Há a consciencialização de se ser diferente do estereótipo que a sociedade impõe, ser-se diferente daquilo que os pais pressupõem ser. Talvez numa primeira etapa exista medo e até vergonha do que se é. A verdade é que o mundo ainda possui muito preconceito e assumir-se ser-se algo é cada vez mais difícil, principalmente pelas retaliações que isso pode fazer surgir.
Entre 18 capítulos, João Geraldes retrata o seu processo de descoberta e de enfrentar o mundo perante aquilo que ele era, mesmo que isso fosse contra o que a sociedade pensava ser.
Mas, lendo o livro, porque só assim se tem um verdadeiro conhecimento do que é verdadeiramente, não se trata apenas das pétalas da rosa bonita, mas sim dos espinhos que essa mesma rosa tem. É um manual que fala também das dores, do processo lógico, do assumir-se para si que se é algo e depois confrontar a realidade. É uma história de vida, contada na primeira pessoa.
Pressupor-se que 'Des(Orientação)' é somente um livro sobre 'saídas de armários', desengane-se. Este livro é mais do que isso. Quantos de nós já tentámos encontrar resposta a algo e não conseguimos? Quantos desejariam ter a partilha de experiências sobre assuntos destes e não as consegue encontrar? Como vive o homossexual depois de que se assume como tal? Será uma globalização daquilo que se vê? Como se vive o amor? Tantas são as perguntas colocadas que por vezes não sabemos encontrar resposta.
No meu cunho pessoal, posso dizer que este livro não é somente um livro. É um manual, um espaço onde podemos encontrar alguém tão parecido a nós, que defende na mesma os direitos LGBTI, que toca nas questões que mais nos fazem tremer. Que se assume sendo o que é, sem alaridos em seu redor. 'Des(Orientação)' é a prova de que a diferença é positiva, que o que sentimos não é em vão, que ser-se gay, bissexual, lésbica, heterossexual, transexual, ou o que for, que não deve fazer diferença nenhuma, porque por detrás de cada orientação está também uma pessoa com sentimentos, uma pessoa igual a tantas outras.
Um dos temas que mais me tocou neste livro foi sem dúvida a questão do amor e da forma como este está muito ligado à questão sexual. Existe uma maior tendência em se escolher um parceiro do que encontrar um amor. O conhecimento do outro vai num caminho muito diferente do que deveria ir. Escolhem-se compatibilidades em vez de oportunidades. Ser-se homossexual não é uma questão de sexo, somente. Há mais para além disso. Há a partilha um com o outro, há aquilo que o outro é verdadeiramente, a forma como sente. Há amores verdadeiros, com lindas provas de amor. As cartas em vez de mensagens, a confiança em vez do ciúme, a saudade em vez do controlo.
Quando terminei de ler este livro senti em mim que ainda há muito a falar sobre este tema, ainda há muito que se tem de partilhar, desvendar, esclarecer. Não se fala de LGBTI por uma questão de moda, mas por uma questão de necessidade, de se ser igual, não ter medo de ser descriminado na sua terra, em sua casa, no seu trabalho. Há a necessidade de se lutar por direitos e por cumprimento de deveres.
João Geraldes, o mais sincero agradecimento e a mais querida parabenização por este teu livro. Por teres tido a coragem de o escrever, de o partilhar com o mundo, com quem quer que se desafie a ler-te. Gostaria de ver este livro nas prateleiras de uma livraria qualquer, sem que esta estivesse com preconceitos. Espero, muito sinceramente, que tenhas o maior sucesso possível, que 'Des(Orientação)' seja uma ajuda para tantos que ainda vivem com as portas fechadas. E, como diria o André Lamas Leite, espero que "num futuro não muito longínquo, ninguém mereça ser elogiado por escrever sobre este ou outros assuntos...", pois significa que vivemos, finalmente, numa verdadeira sociedade democrática.