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Depois em Seguida

CULTURA | MUNDO | ENTREVISTAS | OPINIÃO

25 de Março, 2020

Raquel Marinho

Apesar de portuense de gema, é em Braga que vive desde cedo e alicerça grande parte do seu trabalho.

Foi a experiência da maternidade que mais vincadamente a relançou na importância do brincar como ato de amor e de fortalecimento de vínculos afetivas, das atividades e projeto que hoje desenvolve.

Enquanto estudante universitária começou progressivamente a edificar a sua carreira como animadora freelancer, desenvolvendo atividades lúdico-pedagógicas como principal meio de fomentar o bem-estar físico e psíquico dos mais novos.

Para a Raquel Marinho o seu trabalho reflete aquilo em que acredita e que sente que é urgente mudar.

 

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DES: Estás a lançar a tua marca pessoal. ´Raquel Marinho´ é dedicada à comunidade e à cultura. Como surgiu a ideia?

Raquel Marinho: Sim, a Raquel Marinho já anda por aí e sou eu. Por inteiro (sorri). Desde que comecei a trabalhar, há sensivelmente quinze anos, que o meu trabalho é voltado para a comunidade, sim. Em grande foco as crianças e as famílias. As dinamicas que crio surgem, essencialmente, na tentativa de promover tempos de qualidade que as unam, tendo o “brincar” como ferramenta para o fortalecimento de laços e vinculos afetivos e poder, assim, criar memórias. De há uns anos para cá, este tipo de dinamicas tem chamado a atenção de espaços culturais e de arte. E por que não leva-las até lá e tornar esses locais apeteciveis ao lazer e aos encontros familiares? Conseguiu-se, por exemplo, levar ateliers de cozinha para pais e filhos a bibliotecas, galerias de arte e museus. A pintura, a escrita criativa, a jardinagem, são um exemplo, tambem, da confluencia entre o lúdico, o artístico e o cultural. Estes mediadores expressivos têm muitas vezes a missão de desconstruir temáticas de crucial importancia, tornando-as de acessivel compreensão para as crianças mais pequenas. Falamos das emoções, do bullying, dos medos, das birras de forma divertida e partilhada entre pais e crianças.  A ideia do lançamento da marca Raquel Marinho surge de uma necessidade própria, claro está. Da necessidade de um reconhecimento interno e pessoal pelo trabalho que realizo desde que me conheço. Soube, desde o inicio dos meus trabalhos que um dia lançaria a minha imagem. Só hoje senti a maturidade suficiente para o fazer. E ela aqui está. Um misto de aprendizados, seguranças, inseguranças, medos, conquistas, vitórias. Apesar de ser um colmatar de experiencias profissionais, é sobretudo um inicio, um começo. De coisas boas. E acredito que o melhor ainda está por vir.

 

DES: Sempre te imaginaste neste papel de mediadora cultural?

Raquel Marinho: Eu sou aquilo que faço. Hoje não me conseguiria imaginar a desempenhar nenhum outro papel que não este a que me dedico. Cada projeto que faço é construido e desempenhado com uma paixão e um amor imensos e sei que as pessoas sentem isso. Desta partilha entre mim e o público nasce a certeza cada vez maior que estou a fazer aquilo que gosto. Uma missão de vida. Lembro-me de ter sempre uma enorme dificuldade em categorizar todos os serviços que elaborava. Cada designação que encontrava para a minha profissão estava incompleta pois havia sempre algo mais que ficava de fora desse conceito. Conseguir uma designação que acolhesse todas as frentes do meu trabalho, foi tarefa complicada. Confesso que a designação de Mediadora Cultural é recente, mas foi “talhada” para mim.

 

DES: Se pudesses escolher apenas uma palavra para definir o projeto Raquel Marinho, qual seria?

Raquel Marinho: Essa é uma pergunta para cinquenta mil euros (sorri). Enquanto vos digo isto, ocorrem-me mil e uma. “Família”. Penso que é a palavra mais abrangente que encontro para me definir e consequentemente ao meu projeto também. Família é amor, é segurança, é equilibrio, é bem estar. É a primeira “entidade” responsável por nos permitir um crescimento saudável a todos os níveis. Se pensarmos que os alicerces das minhas atividades, do meu projeto, assentam em todos esses principios e que têm como principais objetivos a promoção do tempo de qualidade entre pais e filhos, o brincar como gesto de amor, o bem estar e o crescimento fisico, psiquico e sócio-emocional saudável, então não encontro outra que melhor o defina.    

 

DES: Consegues ver-te sem o público infanto-juvenil?

Raquel Marinho: Não. Não saberia por onde me reinventar. Seria o mesmo que começar uma nova obra de mim mesma mas iniciando-se pelo telhado. E o mesmo se passaria com o proposito do projeto. Prefiro pensar que essa questão não se coloca!

 

DES: É cada vez mais importante promover a qualidade emocional?

Raquel Marinho: Não é importante, é urgente. O meu trabalho reflete aquilo que acredito e incide no que sinto que é urgente mudar. Se olharmos à nossa volta, está tudo invertido. Insistimos em  adultizar as crianças e infantilizar os mais velhos.  Incomoda-me profundamente que uma criança tenha, cada vez menos tempo para brincar em prol de um sem número de atividades extracurriculares, que muitas vezes nem são do seu agrado. Que exijamos dela a mesma (ou até mais) carga horária do que um adulto no seu emprego. Os pais e educadores vão tendo cada vez mais consciência disso, mas muitas vezes, a dificuldade está em saber como gerir todas as exigências impostas pela sociedade. E sentem-se perdidos e cada vez mais pressionados. O brincar é uma necessidade básica, essencial ao equilibrio de cada pessoa. Nenhuma criança desenvolverá todo o seu potencial se a brincadeira for suprimida. Não se trata apenas de um divertimento. É o seu meio de expressão e comunicação. Brincar é crucial para aprender a identificar e lidar com as suas emoções. É a sua forma de comunicação, de compreensão de papeis, de encarar os seus medos, as suas angustias, os conflitos iternos. Através do “faz-de-conta”, a criança vai crescendo e tomando consciencia de si e do que a rodeia. Os benefícios do brincar são inesgotáveis. Sem brincar não há um crescimento saudável e tornar-se-ão adultos com parcos repertórios de competencias socio-emocionais. Hoje é urgente brincar. E não são só as crianças. Somos todos nós. A criança interior, agradece.  O meu papel é o de promotora de momentos impulsionadores a um crescimento saudável em todas as frentes do individuo, físico, emocional e social. Não mudo o mundo, é certo, mas vou fazendo a minha parte.

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DES: Quais foram os melhores momentos desde que começaste o projeto?

Raquel Marinho: É difícil destacar momentos concretos. Cada atividade é algo novo. Por mais habituada ou segura que estejas, nunca sabes como irá correr. Terá sempre de ser uma invenção ou reinvenção de ti mesma a cada instante. É um crescimento pessoal e coletivo constante, atividade atrás de atividade. Quando percebes que o público captou a mensagem e a tua essencia, esse enriquecimento e crescimento é mútuo. É de uma gratificação imensurável.  E sabes que estás no caminho certo, no teu caminho. E felizmente ao longo do meu trabalho e em particular, recentemente com o nascimento da minha marca pessoal, essa gratificação tem sido uma constante.

 

DES: Como se começa a vida ao contrário?

Raquel Marinho: Essa é uma expressão que utilizo muito. Somos socialmente pressionados a programar a vida de acordo com uma determinada cronologia: estudas para teres um emprego, para casares e teres filhos. Progredires numa carreira para uma boa reforma… Eu inverti essa tendência, apesar de não ter sido propositado. Comecei pelo fim. Não pela reforma (riso) mas pelos filhos. Depois casei. Comecei a trabalhar de forma autodidata com o publico infantil e juvenil de acordo com as ideias e aptidões que a experiencia da maternidade me foi despertando. Em função disso, enveredei pelo ensino, sem sucesso, e posteriormente pela sociologia. Mas felizmente, no meu caso, houve suporte da familia para que assim acontecesse. Claro que me foi penoso abdicar dos momentos auge da juventude, de ver os amigos num registo totalmente diferente do meu, ou ir às aulas depois de noites sem ir à cama. Mas o mais importante é que hoje olho para trás e penso que consegui tirar o máximo partido de todos esses momentos. E o melhor de tudo, é sentir-me abençoada ao olhar as filhas, crescidas, que tenho hoje.

 

DES: Também és mãe. Há tempo livre? Como ocupas os teus tempos livres?

Raquel Marinho: Sim, sou. Aliás, do que me lembro, acho que sempre fui, sobretudo, mãe. Tempo livre? Tem de haver. Para o nosso equilíbrio e consequentemente para o daqueles que de ti dependem. Para mim, no início a grande dificuldade era precisamente saber encara-lo como tempo para nós e como o preencher para me sentir preenchida também. Há medida que os filhos vão crescendo vamos nos sentindo “menos precisas” nesse papel – se alguma vez isso se pode dizer. E podemos pensar mais naquilo que nos faz sentir vivas. O que só é possível com uma grande introspeção e autoconhecimento. O que não é fácil. Penso que só recentemente me conheci verdadeiramente. E com esse processo compreendo melhor a importância e a necessidade de nos afirmamos para nós mesmas como Mulheres. Antes de qualquer outra função acumulada. Talvez esse seja o ponto fulcral para sermos felizes. Conseguido esse bem-estar emocional, somos bem sucedidas nas nossas outras facetas: mães, esposas, profissionais. Pelo menos, eu acredito que sim. Como ocupo os meus tempos livres? Bem, tenho uma paixão antiga, forte, que não sei ainda o que fazer com ela, a aviação. Agora, entre a música, a dança, as caminhadas, as viagens vou-me (re)encontrando.

 

DES: Como chegamos até ti, ao teu projeto?

Raquel Marinho: Hoje em dia tudo é levado a todo o lado através da redes sociais e da internet. E com este projeto procede-se da mesma forma. Para além do facebook e instagram, está ainda em construção o site e o blogue, onde poderã seguir os eventos que vão sendo lançados nos diversos espaços e pontos do país. Contudo, acho que a forma mais eficaz de alargar o nosso trabalho é de forma personalizada, o passar a palavra. É mais gratificante saber que quem o faz esteve nas nossas atividade e gostou.

20 de Março, 2020

Diário De Bordo De Um Lugar Quente

Por André Mariano 

A VERDADE SOBRE A TAILÂNDIA NUMA ALTURA DE RISCO

QUANDO PENSAMOS NO OUTRO, GOSTAMOS DE PENSAR EM NÓS PRIMEIRO.

Viajámos sem pensar numa altura que a Direção-Geral da Saúde não recomenda restrições de viagens, as companhias aéreas reduzem o número de voos, existem fronteiras encerradas e as agências de viagens aconselham o cancelamento de programas turísticos.

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Depois de muitos dias de preparação saímos de Portugal rumo à Tailândia, que segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças  é um dos países onde foram reportados 82 casos de coronavírus laboratorialmente confirmados e até à data houve apenas uma morte

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É verdade! Mesmo num clima social não muito favorável, chegámos a Koh Samui para uma missão internacional, numa das ilhas a sul do Golfo da Tailândia. A exploração do corpo e as massagens características remetem-nos para o começo da escravatura e comercialização intercontinental de seres humanos. Mas nem tudo é mau, dizem eles.

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Cientes do risco, mas com uma vontade maior de mostrarmos que temos o coração no sítio certo, cumprimos o plano da viagem e fomos ao encontro do Elephant Sanctuary para contar a sua história, com o intuito de  ajudar a atrair investimento e doações. É o primeiro e único local da ilha que promove o turismo ético ( estes animais são mágicos e extraordinários). Precisa da nossa atenção, acreditamos. Obrigado Lek Chailert, és a verdadeira mãe.

Durante a viagem de 12 dias (Singapura, Koh Samui, Banguecoque e Dubai), gravamos dois documentários, confessamos-te que usámos máscara até mesmo no hotel. Respeitámos todas as medidas de prevenção que recebíamos pela Organização Mundial de Saúde (WHO), DGS, e das notificações da Rádio Televisão Portuguesa e Observador.

Ainda estávamos no começo dos acontecimentos, mal informados, mas com uma percepção mais real do mundo. Em Portugal fomos apontados como os loucos, os inconsequentes, mas a cima de tudo aqueles que ora relativizaram ora se preocupavam de mais por utilizarmos máscaras. Mas uma coisa é certa: estávamos em pânico, porque sabíamos que tínhamos tantas cartas de amor por escrever. E muitas mais missões para realizar.

A meio da nossa viagem, resolvemos em consenso deixar de partilhar o que vivíamos, a mensagem chegava desvirtuada. E o sabor do sol encoberto pela poluição dava a sensação que estávamos num destino turístico idílico. Resolvemos parar! A nossa realidade foi outra. Conhecemos pessoas e rostos, profissões, histórias e alguns sorrisos e lágrimas. Andámos lado a lado com o vírus, diferentes tipos de sarna, e com a falta de higiene e saneamento básico. Transpirámos odores que não eram os nossos, fizemos largos minutos de apneia e mergulhámos uma vez, onde o mar alto conseguia refletir as nuvens com uma exatidão concreta. Mas fomos felizes! Mesmo sabendo que não podíamos abraçar todos os animais de rua que vinham até ao nosso aconchego de olhares e palavras, enquanto pediam ajuda.

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Ainda antes de chegarmos a Banguecoque, conhecemos outros missionários e grupos involuntários de amigos que se aproximaram depois de fazerem longas distâncias de comboio, camioneta e barco. Visitámos mercados tão mágicos, como inacreditáveis na sua forma de ser: um ecossistema fechado, cujas preocupações passam por satisfazer o cliente e conseguir uma conversão positiva ao mesmo tempo que se resolvem abrigar do calor junto das estradas principais. Ao fim e ao cabo, até nas ilhas de terceiro mundo as regras de visual merchandising são universais e tem todas o mesmo objetivo: a venda cruzada de produtos e serviços. Sempre que entrávamos nestes abrigos comuns, vinha-nos à memória o tal mercado que foi encerrado a 1 de janeiro de 2020, o Wuhan’s Huanan Seafood Wholesale Market, e a magia de estarmos numa ilha onde o amanhecer na praia servia para ver chegar à costa um conjunto de latas e plásticos diversos... faziam com que qualquer sonho, se tornasse um pesadelo ao estilo de “Black Mirror”.

Por esta altura começámos a valorizar o ar puro e o estar longe de pessoas, mas fundamentalmente começámos a reconhecer comportamentos protagonizados pelo preconceito e o estigma. 

 

18 de Março, 2020

Ausente na Primavera [ou Uma Brecha na Matrix]

Crónica Carlos Marinho, Psicólogo Clínico e da Saúde, certificado pela EuroPsy; Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses; Diretor do espaço CresSendo, em Braga

 

"A vida, alguns de nós, não a temos senão vivido num persistente estado de quarentena. A trágica ironia do plano de contingência contra a atual ameaça pandémica é, para muitos/as, acrescentar ao rosto o inconveniente peso de uma dupla máscara – é caricaturizar as falsas representações que temos vindo a tecer de nós próprios/as. Para quem nega o encontro consigo mesmo/a e com a sua afirmação pessoal, para quem vive de fintá-la pelo evitamento, a vida terá sempre o perímetro restrito de uma quarentena."

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Nguye Thai Tuan

“There is a crack in everything / That's how the light gets in” [Leonard Cohen]

Conto-me no número dos/as muitos/as que terão lido, decerto também impressionados/as, as reflexões de um texto que veio a lume pouco tempo depois do COVID-19 ensanguentar as primeiras parangonas jornalísticas, e que tem sido (incertamente) atribuído ao psicólogo Leonardo Morelli [aqui deixo o link para vossa própria apreciação: https://tinyurl.com/v4kc9rn].. Não duvido que o teor das suas reflexões se mostre bastante discutível para uma sociedade prevalentemente antropocêntrica, racionalista, e senilizadora do simbólico.

Trata-se enfim de um relatório autopsial que expõe de forma resumida as manifestações de decadência da nossa hipermodernização – o individualismo pervertido para a exaltação umbiguista, o escurecimento do sentido de coletividade, o déficit de socialização e a restrição dos afetos (“Quando é que tomámos estes gestos e o seu significado como garantidos?”), a orientação mercadológica com que o monopólio do capitalismo nos transformou em homens/mulheres-máquina [ecoando as palavras de Tyler Durden, chegamos inclusivamente a trabalhar “em empregos que não gostamos, para comprar um monte de coisa que não precisamos”], o subaproveitamento do tempo (“cujo valor perdemos se não for mensurável em compensação ou em dinheiro”), o desprezo pela emergência ecológica, a dominância das políticas discriminatórias.

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Em 2018, preocupado com a saúde do amor, ofereci um convite à reflexão sobre as possíveis causas desta progressiva decadência, através de uma exposição de arte plástica intitulada «Pedra, Papel, Tesoura, Beija-me». No libretto que lhe serve de pauta, analisei os problemas acima listados como resultado de uma escalada de interações crescentemente vulnerabilizantes entre as capacidades humanas individuais e as expectativas ideológicas criadas pela pressão da ‘multidão psicológica’.

Sob a insidiosa ética individualista que agora domina a pós-modernidade, a multidão psicológica de que todos/as fazemos parte vai fabricando e vai vendendo modelos crescentemente irrealizáveis de segurança, de sucesso, e de felicidade, impelindo-nos a legitimar o nosso valor pessoal através da sua compra. A hipermodernização é todo um movimento prematuro de upgrade humanitário, um salto maior do aquele permitido pela perna, uma falsa promoção que nos deixa acima da nossa possibilidade de subsistência sã. Alienados/as do que genuinamente necessitamos, a personalidade dilui-se, a realidade é desvirtuada e, por consequência, adoecemos existencialmente.

Se a tendência civilizacional é já a de nos fundirmos aos papéis familiares, pessoais e sociais que assumimos (ou seja, de identificarmos o ‘quem-eu-sou’ com ‘o-que-eu-faço’), a hipermodernização veio comprometer ainda mais a dificuldade de transcender a máscara. Embora esta máscara (a que Jung chamou “Persona”) estimule a nossa individualidade, não a exprime na sua inteireza – representa apenas um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca do que alguém parece ser: como um nome, um título, uma ocupação. De tão firmemente nos querermos mascarados/as, fez-se difícil distinguir a fissura entre o rosto e a máscara que o cobre; de tão absortos/as no up-keep desta ficção, reduzimo-nos à unidimensionalidade de hologramas. Compensatoriamente, a nossa cadência neurótica vem-se manifestando em comportamentos vegetativos, niilistas, no envolvimento compulsivo em atividades, e na solidão. É o nosso novo ópio.

“This is no dream! This is really happening!" [“Isto não é um sonho! Isto está realmente a acontecer!”]. A linha é de Rosemary Woodhouse, interpretada por Mia Farrow no filme «Rosemary's Baby» de Polanski (1968). A voz chegalhe dos confins de um estupor tóxico, malevolamente induzido por terceiros, numa realidade que lhe tentam fazer passar por onírica. A cena inquieta pelo esforço angustiado de uma mulher tentando a todo o custo preservar as suas faculdades mentais contra o constante assédio dos que a querem invalidar; nela perturba o fracasso da rebeldia disposta a romper com a impressão de uma realidade simulada – o fracasso da insurreição da mente lúcida contra uma Matrix enganosa, que desrealiza e dá texturas de posticidade à vida real.

A vida, alguns de nós, não a temos senão vivido num persistente estado de quarentena. A trágica ironia do plano de contingência contra a atual ameaça pandémica é, para muitos/as, acrescentar ao rosto o inconveniente peso de uma dupla máscara – é caricaturizar as falsas representações que temos vindo a tecer de nós próprios/as. Para quem nega o encontro consigo mesmo/a e com a sua afirmação pessoal, para quem vive de fintá-la pelo evitamento, a vida terá sempre o perímetro restrito de uma quarentena. Esperançosamente, porém, este pleonasmo poderá conceder-nos a oportunidade de desafivelar o ardil de cada máscara até à nudez do que verdadeiramente somos. E o que somos, pese quanta diferença nos fizer elogio à intervariabilidade, é iguais – da mesma humanidade, da mesma inequívoca humanidade.

Num texto de autoria desconhecida, já em circulação viral, lê-se outra passagem de interesse: “estão parados igualmente os carros topo de gama ou ferro velhos antigos simplesmente porque ninguém pode sair. Bastaram meia dúzia de dias para que o Universo estabelecesse a igualdade social que se dizia ser impossível de repor”. Talvez como acontece em Hamlet, na encenação que ele monta para instigar a consciência culposa do tio assassino, uma certa estrutura de ficção facilite a consciencialização da nossa verdade mais profunda; colocando-se no ilusório, talvez a híper-teatralização das nossas falsas representações permita libertar o que vamos negando à mente. A nossa partilhada humanidade converteu-se na inversão de um segredo de Polichinelo: o que deveria ser do conhecimento geral, fez-se secreto, desconfortável, impronunciável, proibido. A reflexão de Morelli reforça-o com acutilância: “Chega um vírus que nos faz perceber que, num instante, podemos ser nós os discriminados, os segregados, os bloqueados na fronteira, os portadores de doenças”.

Mais preocupante do que emancipar uma pessoa que não sabe ser reclusa das suas próprias máscaras, é emancipar quem sabe que o é e se recusa a mudá-lo.

[“Pergunto-me — Blanche fez uma pausa — se, não pensarmos em nada mais do que em nós durante dias a fio, pergunto-me o que acabaríamos por descobrir acerca de nós próprios… Joan parecia cética e ligeiramente divertida. — Será que descobriríamos algo que nos era desconhecido até então? Blanche disse lentamente: — Acho que sim… — Estremeceu repentinamente. — Não gostaria de experimentar”.]

Esta foi a oportunidade apresentada a Joan Scudamore, a heroína de «Ausente na Primavera», o primeiro livro que Agatha Christie publicou com o pseudónimo de Mary Westmacott, e do qual extraio a passagem acima. O título é puxado do Soneto XCI de Shakespeare [“Estive de ti ausente na Primavera, / Quando o orgulhoso Abril mais se ataviava / E em tudo um espírito juvenil punha / Que até o pesado Saturno ria e saltitava // Porém, nem canto de aves ou doce cheiro / De diferentes flores em odor e matiz / Me fizeram contar contos de Verão / Ou colher ramas da terra em que cresciam // Não me encantou a brancura de lírio algum / Nem celebrei o vermelhão intenso de uma rosa / Triviais prazeres, meras imagens de gozo / Desenhadas a partir de ti – padrão de todas elas // Contigo longe, ainda Inverno parecia / Entretinha-me eu encontrando em tudo a tua sombra”]. Retida por condicionalismos incontroláveis numa hospedagem iraquiana, a sós com os seus pensamentos, Joan vê-se levada a reinterpretar os eventos relacionais da sua vida, numa perspetiva nova e não isenta de desconforto. Acolhendo uma visão cada vez mais límpida (e mais tolerável) sobre os aspetos menos ajustados do seu funcionamento, percebe-se na iminência da mudança. Porém, assim que lhe é desbloqueado o caminho de regresso a casa, e a obrigatoriedade da reclusão se dissipa, Joan deixa que se lhe extravie a oportunidade para consolidá-la, preferindo esquecê-la.

Guardam-se estas imagens como quem ata um fio ao dedo: para que nunca se menorize a imprescindibilidade do real num mundo de máscaras sobre máscaras. Mas eventualmente esquecemos. Sem o previdente despertador da mãe-natureza, talvez este estado de coma lúcido se perpetuasse até à exaustão; agora, punidos/as pelo castigo da tragédia ou enaltecidos/as a um estado de graça, importa significar a crise, e rentabilizá-la para benefício de um crescimento mais genuíno, logo mais saudável.

Pelo intervalo das minhas apaixonadas consultas à distância, como dos momentos de estudo para atualização de conhecimento, o dia-a-dia vai avançando pelos cenários semi-desérticos de um vagar sem precedentes. Embora não me caia bem a inoperância, bastou meia dúzia de dias para querer a este isolamento como à incubadora de uma força mais viva. O salmista exclama, dirigindo-se a Deus: “Minh'alma tem sede de ti, numa seca e sedenta terra onde não há água" (Salmos, 63: 1, AV). Quase como uma resposta a essa exclamação, uma receita alquímica de 'solutio' começa com as seguintes palavras: “Se souberes irrigar esta terra árida com a água apropriada dilatarás os poros da terra”.

Tomá-lo-ei por estandarte. Talvez possamos agora divisar melhor os limites que vêm aprisionando as forças da ação e do nosso autoconhecimento; talvez possamos agora insurgir-nos interiormente contra o ilusório entretém de “pintar com desenhos coloridos e panoramas resplandecentes as paredes que nos mantêm presos” (a passagem lê-se em Göethe). Pergunta Jamil Chade, correspondente do jornal “O Estado de S. Paulo” na Europa, e colunista da Radio Estadão: “E se usássemos esta quarentena para desenhar um modelo para ampliar a democracia e garantir que a ocupação dos locais públicos seja um direito universal? E se o isolamento fosse usado como incubadora de uma nova geração de líderes? E se o isolamento fosse aproveitado para ajudar nossos filhos sem escolas por semanas a desenhar a letra A? A de ágora. (…) Uma oportunidade única para a sociedade, fechada, olhar para si mesma e se examinar. Temos como construir uma geração fincada na responsabilidade social?”.

Está a abrandar o loop alucinante do carrossel que nos punha em pressas de roda tautológica. Vagarosamente ainda fremem as pálpebras de mal acordadas – mas a luz penetrou a fissura entre a máscara e o rosto. De repente, sem nada que o faça prever, há um súbito fluxo ao coração letárgico. A Matrix rachou, aberta em «O» pela bala perfurante de um assassino genoma de RNA simples; por entre as brechas vemos de chofre quão incontornavelmente frágil é a nossa espécie. Que ao modo ‘piloto automático’ se sobreponha então a vívida atenção da luz. Pela primeira vez em anos, o realismo da materialidade volta a impor-se ao domínio virtual do fantasioso. Que possamos todos/as aproveitar a oportunidade de rematerializar o corpo e o mundo, ao invés de insistirmos furiosamente na sua descodificação atrás de máscaras.

Um sol mais apetecível chama ao deserto deste isolamento forçado. É lá, diz a poesia de Carlos Maria Trindade, que se ouve “o fundo da alma / E se a areia está calma, o bater do coração”. 

16 de Março, 2020

Fábio Barreira Gouveia

Por Amaro Figueiredo 

     Não resiste a quem sabe lidar com ele, em qualquer altura. Sonha ir ao Japão, Irlanda, Islândia, Egito e ao Brasil. Quando era mais novo sonhava muito com os cangurus da Austrália.

     O Fábio gere a página de facebook O Sábio da Lua Cheia, que conta com mais de 20.000 gostos e a página A Bomba Gramatical, dedicada ao humor.

     

"Escrevo-te sem saber como terminar.(...) Escrevo-te em tinta, em papel, em carvão, em sangue, em pedra, em coração. Escrevo-te em sons de noite vazia, em contornos de lua de inverno, em notas de músicas esquecidas, em risos impossíveis de ter, em miados rasgados, vadios, em abraços frios, em sonhos que nunca vou ter. (...) Escrevo-te. Palavras que a maresia traz, que me afogam, que me levam. Palavras que nunca ouvi, palavras que jamais plantei, palavras que agora colho, com a nostalgia que nunca te dei. Escrevo-te. Sem saber quem és, sem saber onde estás. Sem saber o amanhã, sem lidar com o hoje, sem recordar o ontem. Sem saber se mereço a atenção, sem saber se consigo passar a mensagem."

in Escrevo-te

 

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DES: Que papel tem a escrita na tua vida?

Fábio Barreira Gouveia: A capacidade da (boa) escrita é uma arte. A minha querida Florbela (Espanca) é a prova intemporal que, quando sabemos escrever de forma a deixar fluir o nosso epicentro de sentimentos, verdades e emoções, criamos algo incrivelmente belo. Vejo a escrita dessa forma desde que consegui, há muitos anos, escrever um poema que foi interpretado da forma mais correta possível por completos desconhecidos. Consegue ser uma ponte entre o desabafo e a reflexão, quase como uma meditação alternativa: o coração abranda, a alma sossega, e a mente descontrai. Nunca tinha pensado nela desta forma; talvez deva “meditar” com mais frequência!  

 

DES: Qual é a maior liberdade de um homem?

Fábio Barreira Gouveia: Poder sorrir e adormecer, sem se preocupar com o amanhã.

 

DES: O que é o amor?

Fábio Barreira Gouveia: Poderia dizer uma série de frases pseudo-literárias, que na realidade não passariam de fogo de vista. Posto isto, e de forma simples: o amor é a prova que há algo sem explicação que um dia talvez aconteça, e um dia talvez deixe de acontecer; o que fazemos enquanto ele acontece, só depende de nós.

 

DES: Infância ou adolescência? Tens alguma confissão ou memória dessa fase que nos possas contar que seja memorável?

Fábio Barreira Gouveia: Infância, sem dúvida. Comparativamente à minha adolescência, foi uma fase de ingenuidade, em que era feliz sem saber, e por isso hoje a recordo com tanto carinho. Recordo-me dos natais, ainda eu miúdo com 6/7/8 anos de idade, sem telefone em casa, me juntava aos meus pais para escrever os postais de natal para enviar aos meus avós maternos, que viviam em Vinhais (Bragança) e à minha avó materna que vivia no Chiado, em Lisboa. Escrevíamos na mesa da sala, enquanto dava na televisão o Vitinho, e eu me recusava a ir dormir sem escrevermos tudo bonito para que as minhas avós soubessem que gostávamos muito delas. Tenho ainda alguns deles guardados, que tive a oportunidade de reaver após o falecimento de ambas as minhas avós, e releio-os hoje com muita saudade e nostalgia.

 

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©FBG

 

DES: A que é que não resistes?

Fábio Barreira Gouveia: Não resisto a quem sabe lidar comigo, em qualquer altura. É difícil!

 

DES: Quais são os privilégios e as dificuldades de gerir a página “A Bomba Gramatical”?

Fábio Barreira Gouveia: São quase apenas privilégios. Tenho o privilégio, por exemplo, de conseguir construir um cenário em que pequenos lapsos são transformados em verdadeiras “bombas” gramaticais, e com isso fazer rir quem segue a página. Creio que a maior dificuldade é resolver um momento de tensão com algum interlocutor que não compreende o sentido de humor de determinada publicação, e com isso sente-se no direito de ser ofensivo e rude. Creio que nesse aspecto, o facto de trabalhar com público há muitos anos me ajuda bastante a conseguir gerir o conflito de uma forma mais suave.

 

DES: Qual é o erro indispensável?

Fábio Barreira Gouveia: Oferecer Ferrero Rocher pelo Natal a algum tio ou tia.

 

DES: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar?

Fábio Barreira Gouveia: Viajar muito. Gostava de ir ao Japão, Irlanda, Islândia, Egito e Brasil. Quando era mais novo sonhava muito com os cangurus e a Austrália, mas aquelas aranhas todas que para lá andam não são NADA convidativas!

 

DES: Há alguma coisa de que te arrependas muito?

Fábio Barreira Gouveia: Agarrar-me incansavelmente a um amor obsoleto e unilateral, e achar que por eu querer, teria. Por outro lado... Aprendi com isso que, o mundo seria muito mais pobre se o Amor fosse propriedade, em que bastaria querer para ter. Portanto, no fundo, creio que nem disso me arrependo verdadeiramente.

 

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©FBG

 

DES: Qual é o teu livro preferido? Porquê?

Fábio Barreira Gouveia: Não um livro em concreto, mas de um modo geral tudo o que foi escrito pela Florbela Espanca. A sua capacidade de colocar a alma em papel, de colocar a amargura num pedestal, e fazer-nos querer sofrer com ela apenas para que ela não sofra tanto e tão sozinha... Acho que me faço entender.

 

DES: Vamos fazer um jogo. Eu digo uma palavra e tu dizes o que vier à memória. Luxo...

Fábio Barreira Gouveia: .... algo desnecessário, como relógios que custam mais que um carro.

DES: Longe...

Fábio Barreira Gouveia:...o passado.

DES: destino...

Fábio Barreira Gouveia:...nunca saberemos se existe ou não.

DES: snob...

Fábio Barreira Gouveia:...falta de empatia, ou fachada em defesa da vulnerabilidade.

DES: sonho...

Fábio Barreira Gouveia: ...muito mais quando estou acordado do que a dormir.

DES: Tempo...

Fábio Barreira Gouveia: ...a maior preocupação de todos nós.

DES: Obrigado. 

15 de Março, 2020

10 Livros Que Li 2 Vezes

Por Amaro Figueiredo 

A magia do caminho é ler um livro.

Por detrás de cada livro escondem-se histórias, memórias, ilusões, criatividade, lugares, datas, fotografias, liberdade, pessoas e nomes. Há livros que prometem abundantemente o amor, vidas tristonhas, emoções fortes, reflexões e por vezes experiências heróicas.

Escolhi 10 livros que li (pelo menos) 2 vezes, num estilo de pensamento.

 

Uma Noite de Natal, Sophia de Mello Breyner

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E a brisa passava entre as agulhas dos pinheiros, que pareciam murmurar frases incompreensíveis. E vendo-se assim rodeada de vozes e de sombras Joana teve medo e quis fugir. Mas viu que no céu, muito alto, para além de todas as sombras, a estrela continuava a caminhar. E seguiu a estrela.»

 

 

O Arranca Corações, Boris Vian 

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«Os adultos são selvagens, ferozes ou infelizes, condenados à solidão, enquanto as crianças, cúmplices na magia, procuram secretamente a sua paixão de viver». Tudo isto numa «aldeia entorpecida na vergonha e na religião», onde «os trigémeos exploram o seu universo feérico enquanto uma mãe, que os ama demasiado, lhes reduz inexoravelmente o espaço»

Gilbert Pestureau

 

 

 

Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa

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«Um velho festeja o seu centésimo aniversário. Quis saber como é que ele se sentia. O pobre homem sorriu atónito, disse-me, não sei bem, aconteceu tudo demasiado rápido. Referia-se aos seus anos de vida e era como se estivesse a falar de um desastre, algo que sobre ele tivesse desabado minutos antes. Às vezes sinto o mesmo. Dói-me na alma um excesso de passado e de vazio.»

 

 

O Filho de Mil Homens, Valter Hugo Mãe

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«Todos nascemos filhos de mil pais e de mil mães, e a solidão é a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e a nossas mil mães coincidissem em parte, como se fossemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros.»

 

Filho de Ninguém,  Michael Seed 

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«Por vezes, conseguia escapar-me para a área proibida para lá do muro e brincava com alguns dos miúdos mais pequenos.»

 

 

 

Gente Aparentemente Normal, Jorge Santos

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«Há coisas que não podem ser explicadas (...) Temos de as aceitar como são. Não aqui, - apontando para a cabeça - mas aqui. - Pôs a mão no coração. - Sentir é mais importante do que saber. Acreditar é mais recompensador do que comprovar a verdade.»

 

 


A Cigarra no Cinzeiro, Maria da Graça Pulquério

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«Parecia procurar o outro lado da árvore e continuava às voltas, com se nunca o achasse. (...) E era debaixo dos loendros e debaixo dos pinheiros que o veado escondia o temor da sua solidão, ao pensar que as copas das árvores eram grandes demais para que alguém conseguisse descobri-lo quando descessem os mensageiros das nuvens. (...)Qualquer coisa lhe dizia que o que pudesse vir só viria do céu.»

Medo

 

 

 

Germana,  A Begónia, Ricardo Fonseca Mota 

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«Eu não vou morrer, porque não existe morte para quem morre. (...) Eu não vou morrer, vou só acabar.»

 

 

 

 

O Beijo do Silêncio, Francisco Grácio Gonçalves 

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«Lendo-te as pálpebras do desengano (...) Esse abafo que agora prefiro.»

 

 

 

Memorial do Convente, José Saramago

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«há coisas no céu que não sabemos explicar, (...) soubéssemo-las nós e as coisas do céu teriam outros nomes.»

 

Nota

*Não estão pela ordem de preferência.  **"A Noite de Natal" ©Biblioteca Nacional de Portugal. 

03 de Março, 2020

'Equinox' | PRÉMIOS SOPHIA 2020

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Opinião 

Em Equinox a noite não é igual ao dia: a noite é amaldiçoada e há “mortes” que trazem vida. Equinox é recomeçar. Equinox é o «corte» egoísta que fazemos com o amor.

 

“Vizinhos não dormem em casa uns dos outros.”

 

Na curta-metragem de animação de Bruno Carnide, os diálogos de Carlos Salvador, exprimem uma grande solidão,  e na solidão muito maior é o sofrimento. Em Equinox não basta saber que se deve amar.

Carlos Salvador conseguiu entregar ao espectador o abandono, sem esperança, num grito de desespero, o verdadeiro ensaio sobre o amor: O amor não pode ter limites na sua intensidade?

A curta-metragem Equinox está nomeada para Melhor Animação nos PRÉMIOS SOPHIA 2020, da Academia Portuguesa de Cinema.

Parabéns.

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EQUINÓCIO
Algures nos subúrbios de Tóquio, sempre que os dias são iguais às noites, o amor perde mais uma batalha.

Director: Bruno Carnide
Production: Bruno Carnide, Cátia Biscaia, Eduardo M Escribano Solera
Writer: Carlos Salavador
Illustration: Bruno Carnide, Kasun Sameera
Animation, Editing, VFX: Bruno Carnide
Voices: Kana Sugai, Taca Saunder
Original Music: Miguel Samarão
Sound: Bruno Carnide, Miguel Samarão
Design: Marcos Paixão
Translation: Suhail Yousaff, Jorge Bernardes, Diego Salgado Alves, Telma Bernardes
Thanks: Tiago Carvalho