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Depois em Seguida

CULTURA | MUNDO | ENTREVISTAS | OPINIÃO

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Sandra Corga Figueiredo

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© Carlos Daniel Marinho 

 

(poesia-murro)

 

Enfrento-te destemida mas desnorteada

Os pequenos pontos pretos que te aparecem no momento em que teclo furiosamente

Em catarse, embriagada

Não fazem sentido porque não mudam nada

Não mudam, não revelam, não alentam, não agora, não nunca, não sempre, NÃO

                                                                           O mundo está doente, ferido de morte

E os há com a sorte, torpe, feia, e se alimentam dos outros

                                                                             São vampiros, piolhos, carraças, traças

Cretinos.

A poesia que não muda o mundo, não te muda

Lê-se de amor e de corpos e de corpos e de amor

Não versa meninos que morrem na beira do sonho, com o som do mar

Nem o espanto mudo da mulher silenciada estrondosamente

É arte se te emociona, se te chega ao coração,

se te abana violentamente

É arte se te agride, se te transgride a razão

NÃO

E escrevo um verso profundo

                                                     incapaz de trans(torn)formar o mundo.

 

Sandra Corga Figueiredo

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Rosa Maria Coelho

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© Carlos Daniel Marinho 

 

Sempre Nós

 

Era Maio e as minhas mãos

Vazias e nuas

Num repente encontraram as tuas

E ali ficaram

Quietas, mudas

Com sede, de tudo que não sabiam

Mas queriam

E adivinhavam nas tuas

Não me perguntes porquê,

Tive vontade que aquele tempo

Fosse para sempre assim

Não me perguntes porquê,

Tive vontade de me colar em ti

Fazer no teu ombro, o meu futuro

Não me perguntes porquê,

Tive tantas vontades

Decerto iguais às tuas,

Mas tantas...,

Que quase quis ali, ficar nua

De tudo,

Do resto que pra mim já não existia,

Já que só tu me valias

Não me perguntes porquê,

Mas desejei mil vezes que a tua boca

Sonhasse com a minha

Me beijasse inteira

E como num sonho voássemos, até à Lua

Não me perguntes porquê,

Mas a partir dali cada dia, era menos um peso

Pois só sonhava em ser tua

Toda tua,

Não de beijos

Não de abraços

Mas inteira, de corpo e alma acesa

Os dois fundidos num só, iluminados pelo Sol

Tapados pela Lua

E juntos, assim, unos sermos

Naquele estar de mãos cingidas, coesas

Que nada devia nunca separar...

Não me perguntes porquê,

Mas foi sempre assim o meu sentir e estar...

É ainda assim que nos sonho

Envoltos em lençóis de seda,

Nus, tu e eu,

Numa junção Cândida e infinda

Amor que sofre, chora e sorri,

Amor que é para toda a vida

Não me perguntes porquê? ...

 

Rosa Maria Coelho

 

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Ricardo Fonseca

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©Carlos Daniel Marinho

 

O Poeta Em Mim

 

Dizem que sou poeta,

Mas poesia não sei escrever,

Parco me torno de palavras,

Não sabendo orquestrar a melodia certa,

Que precisam para demonstrar o meu querer!

 

Talvez seja poeta da vida,

Rimando com cada dor, emoção,

Talvez seja eu próprio poesia,

Escrito pelo universo,

Naqueles momentos de inspiração!

 

Sou poeta em momentos,

Nem sempre sinto capacidade de rimar,

Nem sempre as rimas são necessárias e perfeitas,

Pois a poesia é mais, é vida, Amor, alma e mar!

 

Sou poeta de emoções,

Cavaleiro andante das palavras,

Erguendo baluartes de sentimentos, construções,

Tornando a escrita numa nobre arte!

 

Hoje celebro-te inocentemente,

Ouso ser poeta só mais uma vez,

Seja a poesia a forma da alma transparente,

Enaltecendo o amor, a energia para escrever.

 

Ricardo Fonseca

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Ricardo Correia

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©Carlos Daniel Marinho

Saudade

 

Há no meu profundo ser

Uma criança alegre, divertida

Que apenas quer fazer

Aquilo que tem sentido na vida.

 

Vejo no horizonte nuvens negras

Sinais de grande preocupação

E recordo a criança nas pedras

Brincando livre com o coração.

 

Dias de dúvidas, incoerência

De mentiras, de falsas verdades

E a criança olha com inocência

Os que provocam atrocidades.

 

Os homens que destroem a Terra

Esqueceram-se de quando eram crianças.

E hoje atiram filhos para a guerra

Destruindo aos futuros as esperanças.

 

E a criança que vive em mim

Chora, soluça, esperneia, desiste.

Porque o adulto não permite enfim

Que o sonho se torne triste.

 

Ricardo Correia

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Ricardo Belo de Morais

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© Carlos Daniel Marinho


Eu De Terra

 

Coloco-me de frente para a lanterna de interrogatórios

em suspensão desequilibrada de azeite sobre água.

Misturo meia parte de mim noutra esquiva de mim mesmo,

fúria ferida de hélices em mar calmo de incertezas.

 

Desaguo em espirros fora de borda sem salvação de colete,

cornucopiano caleidoscópio de luzes absortas em negro.

Mar de terra prenhe de húmus que gera raízes suspensas,

Eu espinha dorsal

Eu ramos verdes

Eu folhas

Eu seiva

Eu explosão de inocência mascarada

Eu Génesis de culpa descarada

 

Eu tanto!

Eu tão tudo!

E sem ti, tão nada...

 

Ricardo Belo de Morais

 

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Renato Pires

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© Iolanda Moutinho

 

Sabes?!

 

Sabes?!

Eu sei

Que tu não sabes que eu sei

Mas um dia saberei

O que irei sempre esquecer

O que hoje não sei

E deveria saber.

 

Sabes?!

Se eu soubesse

O que em tempos passados soube

Seria mais fácil para mim viver

Compreender que não devo esquecer

O que hoje sei que não sei

O que um dia fora de tempo saberei.

 

Sabes?!

No fundo estou sempre a saber

E é esse saber que me faz esquecer

Que o aprender para sentir o sentimento perdido

Não é mais do que recordar

O que já sei esquecido.

 

Renato Pires

 

15 de Maio, 2020

#odiaemqueopoemarebentoudochão, Pepita Tristão

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© Carlos Daniel Marinho 

 

Paisagem

 

Tanto mar

tanto azul

tanta beleza e nostalgia

Brutas as rochas

que tímidas, resistem

a este mar de acalmia

Gaivotas esvoaçam

rasando as águas

 

Lá longe, no pontão,

sobreviventes de si,

vultos escuros mexem-se

por entre redes e covos

 

Calmo este Novembro

sorridente hiato na minha faina

 

Suavemente

a embarcação rasga as águas

velha e pejada de sonhos

e esperanças

sem deixar ânsias

nas velhas carpideiras

de praia.

 

Gaivotas em cortejo perseguem

promessas de alimento

desistindo, quando a distância da terra

se torna inquietante

 

Ao fundo, estática, a marina

Onde despontam pequenas árvores

e se reflete o brilho das viaturas.

É a civilização sobrepondo-se

à natureza rude.

 

Tanta água

tanto azul

tanta beleza e nostalgia...

 

 

Pepita Tristão

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