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Depois em Seguida

CULTURA | MUNDO | ENTREVISTAS | OPINIÃO

22 de Fevereiro, 2021

JEFFERSON RIB

Jefferson Rib nasceu no Rio de Janeiro e vive em  Portugal há 3 anos.  Para trás ficou uma das suas maiores paixões: o carnaval carioca. 

No Rio de Janeiro, trabalhou como cenógrafo, figurinista e designer gráfico em espetáculos teatrais e eventos culturais.

As colagens é uma das suas paixões, dando voz a delicadeza e criatividade interior. A maior parte do seu acervo de imagens são adquiridos em alfarrabistas, lugar onde poderia passar horas a fio.

É um dos artistas da Plataforma do Pandemónio, uma associação que tem promovido a arte e a cultura em Braga.

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©rib 

DES: Quando começaste a interessar-te pela colagem criativa?

Jefferson Rib: Trabalho como designer gráfico há mais ou menos uns dez anos e a colagem, enquanto linguagem, sempre esteve presente nos meus trabalhos - e, aliás, isso foi algo que só consegui perceber agora, olhando retroativamente. Sempre me interessou na colagem essa absorção das imagens que estão por aí e sua inserção no espaço pictórico, a fim de trazer rupturas e novas narrativas. Comecei na colagem analógica há pouco mais de um ano como um projeto pessoal, paralelo ao meu trabalho de designer, uma forma de começar uma investigação artística particular. E isso foi ganhando contornos mais definidos com o tempo, à medida que ia criando e percebendo as muitas possibilidades criativas que a técnica possibilita.

DES: Em que medida é que a sensibilidade é importante no processo criativo?

Jefferson Rib: Todo processo criativo é composto por uma boa proporção entre sensibilidade e pensamento. E claro que as duas coisas se confundem, não têm limites precisos. Na colagem, essa sensibilidade se revela, sobretudo no olhar, na pesquisa de imagens, a etapa que antecipa todo o trabalho de composição e da colagem propriamente dita. É com sensibilidade que se é capaz de olhar o que encontramos no mundo, num contexto ordinário e banal, e extrair daí algum novo sentido na sua relação com outros elementos da obra.

DES: Qual o fator principal que dinamiza a colagem?

Jefferson Rib: Tem uma escultura famosa do Picasso, uma das minhas obras preferidas de sempre, chamada “Cabeça de Touro” (“Head of a bull”). Acho essa obra de uma precisão absoluta e me faz pensar nessa pergunta. Nela, o artista, junta dois componentes de uma bicicleta, um guidão e um banco, criando, ao dispor o guidão na parte superior do assento, uma forma que se assemelha a uma cabeça de touro. Entretanto, ainda que essa associação ao animal seja feita naturalmente por quem se depara com a escultura, a singularidade de cada objeto se mantém com muita força. Ou seja, “é” a cabeça de um touro, mas é também apenas um guidão junto a um banco de bicicleta. E esse aspeto potencializa essa espécie de collage, assemblage, que seja - porque, seja o que for, há ali um princípio de colagem, sobretudo por ter sido feita por quem foi. Então independente do novo sentido que os fragmentos criam quando reorganizados numa obra, eles ainda podem ser vistos como são, trazem memórias, contextos, histórias. A dinâmica, talvez, está no ser algo novo sem deixar de ser o que se é.

DES: Quais são os maiores desafios de uma colagem?

Jefferson Rib: Ao menos no meu processo - e falo mesmo a partir de um critério particular -, é conseguir unir imagens de textura e saturação não muito díspares - exceto quando é exatamente essa a intenção. Um desafio em reunir imagens de fontes distantes é manter um certo equilíbrio cromático, e isso passa pelo tipo de papel em que essas imagens estão impressas. Uma cor em um papel fosco traz um resultado estético muito diferente na colagem caso presente num papel com brilho, por exemplo - e ainda podemos estender as variáveis à gramatura, à textura e etc. Há uma série de detalhes ligados à materialidade das imagens que serão determinantes na hora de realizar uma colagem e tornarão o ato de aderi-las ao suporte mais ou menos difícil.

DES: A colagem criativa está na moda?

Jefferson Rib: Não sei, está? Creio que não. A colagem é uma arte muito democrática. Não é preciso saber desenhar, pintar e, se calhar, nem mesmo utilizar tesoura ou bisturi com precisão - pois ainda resta o rasgo, a mão - e talvez por isso ela seja um pouco… “marginalizada”? Não sei se é bem essa a expressão, mas digo no sentido de talvez não ser tão valorizada quanto deveria. Vale dizer que é uma técnica muito recente na história da arte, que começa a ser desenvolvida num contexto de muitas transformações artísticas, e não só no campo das artes visuais. E, desde então, ela tem se desdobrado de muitas maneiras, seja misturada a outras técnicas, seja como protagonista - e,importante, uma técnica que não se restringe à arte visual, mas está presente também na literatura, na música, etc. Bem, eu espero que não esteja na moda, já que toda moda, como é inerente ao fenómeno, há de passar. E não, tomara que não passe.

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©rib 

DES: O que te faz diferente dos outros artistas?

Jefferson Rib: A mesma coisa que faz os outros serem diferentes de mim e cada um ser diferente do outro. Cada artista tem seu contexto, suas necessidades, suas referências, seu repertório, sua formação. Entretanto, e não falo isso fazendo juízo de valor, há dois pontos que são bastante caros para mim: a primeira é trabalhar somente com imagens que já estão por aí na vida, já publicadas; e a segunda é evitar ao máximo fazer reproduções dos trabalhos, a fim de manter as propriedades da colagem (como camadas, sobreposições e textura) e a exclusividade da obra.

DES: Tens algum trabalho que consideres especial?

Jefferson Rib: Nutro um carinho especial pela primeira colagem analógica que fiz por algumas razões - e, dentre elas, ser o ponto de partida deste projeto, mesmo que, a princípio, faria apenas uma colagem como um exercício criativo. Mas ela é especial devido à escassez de material que eu tinha naquele instante, somente duas revistas e mais nada. Apesar de talvez não apresentar soluções das mais criativas, busquei aproveitar aquele material da melhor maneira possível. Como toda escolha é também uma renúncia, tive que renunciar pouco, então foi bem confortável neste aspeto.

DES: Qual foi a coisa que te disseram sobre o teu trabalho que mais te marcou até hoje? Pela positiva.  

Jefferson Rib: Talvez eu esteja por ouvir, mas eu fico feliz quando nos mercados de arte as pessoas observam, comentam e compram (ou não) um trabalho. Porque a criação, quando se está ligado a um processo individual, é um ato muito solitário. Você cria aquilo porque é algo que faz sentido para si, mas a relação com o outro é sempre inédita. Outro fato muito legal que me marcou bastante foi quando me disseram pela primeira vez que “tenho revistas para te entregar”. Percebi que tinham me associado à colagem, e isso foi um tanto significativo, ter uma linguagem pela qual te identificam.

DES: Qual foi a maior aventura que te aconteceu ligada à colagem?

Jefferson Rib: Não consigo pensar em nada que faça jus à palavra “aventura”. Mas se posso aproximar “aventura” de “desafio”, é certo que relaciono à questão mercadológica da arte. A coisa muda completamente quando você precisa precificar uma obra sua. Diferente de um trabalho como designer, por exemplo, em que um cliente demanda um projeto com características específicas, uma colagem nasce pelo desejo de criar. E carrega um processo criativo único que está muito aquém do valor final, que tende equilibrar acessibilidade (para quem compra) e reconhecimento (para o artista). Para mim, essa é uma questão ainda problemática.

DES: Qual foi a colagem com o processo mais difícil de concretizar? Podemos saber?

Jefferson Rib: Cada colagem traz o seu nível de dificuldade, a qual pode estar relacionada ao tamanho das imagens utilizadas, a sobreposição entre elas, se quero trabalhar com algum lettering (algo que tenho investido muito ultimamente), entre tantas coisas. Um bom exemplo é uma colagem recente que fiz, “a mulher no cavalo e o grande salto”, aparentemente muito simples: tem dimensões pequenas (15cm x 10cm), possui uma imagem principal e apenas outra imagem, sem recorte, de fundo. Mas a imagem que nomeia a obra, tão pequena quanto potente, trazia uma possibilidade infinita de soluções e todas que atravessavam minha cabeça não ganhavam força quando experimentadas no papel. E a solução final, a de fazer uma abertura no papel como se ocasionada pelo salto da mulher, só chegou após muita experimentação. Ou seja, ainda que o tamanho da imagem protagonista tenha trazido um desafio no seu corte devido ao tamanho e aos detalhes, a dificuldade em concretizá-la estava em fazer a escolha certa. Porque, afinal, toda colagem nasce sob um risco, uma vez que está em jogo ali um material que você, na maioria das vezes, não consegue mais recuperar.

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©rib 

DES: Uma colagem é...

Jefferson Rib: No texto de apresentação da exposição “narrativas analógicas”, que reunia uma série de colagens minhas, escrevi que a colagem é sempre uma (re)visão, é um olhar de novo, e essa é uma ideia que, como já foi dito aqui, me agrada bastante. Pensar a colagem como uma absorção das coisas do mundo, mas uma absorção ativa, uma maneira de subverter o que é visto. A colagem também é sempre resultado de um instante e está, em algum nível, ligado ao acaso, no sentido que: aquela reunião de imagens que formou a obra só se deu de tal maneira pela oferta limitada de imagens no momento da criação.

DES: O artista é... 

Jefferson Rib: Alguém atravessado por uma conjuntura muito particular, seja no sentido macro - artística, cultural, social, económica, geográfica, etc. - ou micro - emoções, desejos, vontade criativa, etc. Cada tempo produz o seu artista e novas maneiras de pensar e fazer arte. Talvez valha refletir o que é o artista hoje, especialmente nesse novo tempo. Carentes de um apoio estatal amplo e enérgico, diversos segmentos artísticos e culturais estão se reinventando para manter-se ativos, o que não é muito diferente de outras áreas. O artista está a repensar seus meios, suas criações, seus limites. Toda crise propulsiona criação, e espero que seja possível tirar algo bom disso tudo.

DES: Se não fosse a colagem era...

Jefferson Rib: Eu andei investindo em ilustração pouco antes de começar a fazer colagem, mas não aconteceu, ainda que rabisque vez ou outra para a mão não enferrujar. Sinceramente, não sei, não gosto da ideia do “se”. Aliás, eu já vejo a colagem como consequência da minha imigração para Portugal, já que quando iniciei esse projeto aqui era, sobretudo, para suprir a falta de certa produção artística que havia deixado no Rio de Janeiro. Era uma forma de voltar a criar, a estar em exercício criativo. Então prefiro pensar que “ainda bem que tem a colagem”. No mais, o jovem cinéfilo que fui ainda sonha em realizar um filme.

DES: A pandemia prejudicou o teu trabalho?

Jefferson Rib: À parte toda a ansiedade que o novo cenário trouxe, todo o medo e tristeza plantados pelas notícias, o primeiro lockdown, lá em março de 2020, foi bastante profícuo, já que, assim como boa parte do mundo, me deparei com uma oferta inédita de algo raro chamado tempo - o que, convenhamos, em excesso também não é muito favorável. Também foi nesse contexto que surgiu e pude integrar a Plataforma do Pandemónio (@plataforma.do.pandemonio), uma associação que tem sido muito ativa em pensar e promover arte e cultura em Braga. Neste início de 2021 o contexto é outro e o impedimento em realizar mercados de arte tem sido bastante prejudicial. Minha pequena e primeira exposição que estava a ocorrer na Livraria Centésima Página, em Braga, foi suspensa logo na primeira semana, já que a livraria não podia mais receber clientes.

DES: No futuro quais são os teus objetivos?

Jefferson Rib: Sou um experimentador constante e tem muita coisa que gostava de experimentar a partir da colagem - trabalhá-la concomitante a outras técnicas, outros suportes… E nesse sentido, tenho imensa vontade em levar meu trabalho para o espaço urbano, pensar grandes formatos de colagens, murais e afins. Porém, se tem algo difícil atualmente é isso de pensar no futuro. Não que queira terminar essa conversa de forma pessimista, mas temos adiado o futuro e estamos mais uma vez em um presente em suspensão. Pra já, prefiro pensar na colagem que estou para terminar, que aí eu já posso começar outra, e depois outra e por aí vai.

DES: Obrigado. 

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20 de Fevereiro, 2021

A ÁGUA, OBJECTO FOTOGRÁFICO

A água em 12 fotografias.

"Nasci numa região de riachos e rios, num canto da Champagne, povoado de várzeas, no Vallage. Foi assim denominado por causde um grande número dvales. Para mim, a mais bela das moradas encontrar-se-ia no fundo de um pequeno vale, nas margens de uma água viva, na sombra curta dos salgueirosvimeiros.quando Outubro chegasse, com as suas brumas sobre o rio..." 
A água e os Sonhos, Gaston Bachelard
 
 

Serra da Estrela 

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Molelinhos

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Cascata do Poço da Broca

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Molelos

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Cabril do Ceira

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Fotografias de ©Amaro Figueiredo

 

20 de Fevereiro, 2021

7 DIAS 7 FILMES

"Num filme o que importa não é a realidademas o que dela possa extrair a imaginação."

Charles Chaplin

Um filme por dia nem sabe o bem que lhe fazia.


7 Dias 7 filmes

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DOMINGO

IN THE FADE, de Fatih Akin (2017)

Crime, Drama, Thriller 

Diane Kruger consegue transmitir coragem, confiança e amor à personagem.

A última cena  não convenceu.

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SEGUNDA-FEIRA 

RIALTO, de Peter Burns (2019)

Drama

Tom Vaughan-Lawlor transformou o filme num monólogo e muito bem. 

Tom Glynn-Carney não superou as expectativas.

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TERÇA-FEIRA 

BOY ERASED, de Joel Edgerton (2018)

Drama

Nicole Kidman. 

O guião. 

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QUARTA-FEIRA 

QUANDO HITLER ROUBOU O COELHO COR-DE-ROSA, de Caroline Link (2019)

Drama

Do início ao fim foi consistente. 

O mesmo registo da Caroline Link.

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QINTA-FEIRA 

PORTRAIT OF A LADY ON FIRE, de Céline Sciamma (2019)

Drama, Romance 

Fotografia.

O excesso de melancolia em algumas cenas.

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SEXTA-FEIRA 

LISTEN, de Ana Rocha de Sousa (2020)

Drama

Os actores. 

A passagem entre planos é longa. 

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SÁBADO

LIGHT OF MY LIFE, de Casey Affleck (2019)

Drama, Ficção 

Consegue prender até ao final.

O filme é muito extenso. A cena das compras era desnecessária. 

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17 de Fevereiro, 2021

FILIPA VALE

Adorava imitar a avó materna desde que era pequena. Herdou a paixão pela moda e aos 6 anos decidiu ser estilista. As bonecas eram as suas maiores clientes, construindo uma história para cada peça terminada.  

Hoje, licenciada em Designer de Moda, Filipa Vale continua a contar histórias com e nos seus trabalhos, refletindo emoções. Os pormenores nas suas criações acrescentam singularidade e textura ao resultado final.

Tem o sonho de poder “abrir e manter um atelier, pelo menos, na capital de cada país”.

Saiba mais aqui.

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©Miguel Jorge

DES: Quando começaste a interessar-te pela moda?  

Filipa Vale: Eu desde pequena que dizia que o que queria ser era designer de moda. Já nessa altura desenhava e tentava costurar... para as minhas bonecas.

 

DES: Em que medida é que a sensibilidade é importante no processo criativo? 

Filipa Vale: A sensibilidade é importante no processo criativo, uma vez que está ligada às emoções de cada indivíduo. Por norma a criatividade surge conforme o nosso estado de espírito e o que nos rodeia.

 

DES: Qual é o papel da moda na tua vida? 

Filipa Vale: A moda é importante para mim, quero viver dela, com isto quero dizer que quero fazer da moda a minha vida. 

 

DES: Preferes a ideia ou a concretização?  

Filipa Vale: Não consigo escolher. Gosto de idealizar a roupa, e gosto também do facto da poder concretizar.

 

DES: Qual a peça que mais gostaste de fazer até hoje? Porquê? 

Filipa Vale: Não tenho como escolher, talvez a primeira peça que fiz. Foi uma blusa. Quando recebi a minha primeira máquina, peguei em tecidos que tinha e assim surgiu a blusa.

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©Miguel Jorge

 

DES: O que consideras um trabalho irreverente? 

Filipa Vale: Todos os trabalhos que sejam feitos com paixão e consideremos também as peças conceituais e criativas.

 

DES: O espaço e o tempo dinamizam a moda?  

Filipa Vale: Sim, uma vez que o tempo e o espaço estão sempre em constante alteração, a moda acompanha-os.

 

DES: O que mais te inspira no outro e porquê? 

Filipa Vale: A inspiração não passa de um estímulo, o qual pode chegar a nós de qualquer lado ou forma, e até mesmo de outros. Ao ver os trabalhos de outras pessoas, também ajuda numa busca pela inspiração.

 

DES: Qual foi a maior aventura que te aconteceu ligada à moda? 

Filipa Vale: Ainda não tive assim nenhuma aventura que fosse ligada à moda.

 

DES: Qual a peça com o processo mais difícil de concretizar? 

Filipa Vale: A peça de vestuário que mais tempo consome e que possui um grande nível de dificuldade são os casacos. Peças que necessitam de ser forradas e ainda possuem bastantes detalhes.

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©Miguel Jorge

DES: Qual foi a coisa que te disseram sobre o teu trabalho que mais te marcou até hoje? 

Filipa Vale: Não me lembro de algo que me tenha marcado. Mas é bom ouvir quando as pessoas dizem que estão orgulhosas, para acreditar em mim, porque terei sucesso.

 

DES: Com quem gostavas de trabalhar? 

Filipa Vale: Um dos Designers com quem gostava de ter tido a oportunidade de trabalhar era Lagerfeld. Na ModaLisboa, acabei por encontrar um designer que achei bastante interessante e com quem me identifiquei bastante... Gonçalo Peixoto. 

 

DES: O amor rima com caminho? 

Filipa Vale: O amor tem uma grande importância na nossa vida. Podemos encontrar o amor em várias situações, mas a nível profissional, o amor por aquilo que fazemos é o que nos faz chegar longe e concretizar os nossos objetivos.

 

DES: Há algum obrigado por dizer?  

Filipa Vale: Há muitos obrigados por dizer. Primeiramente e principalmente aos meus pais, que sempre acreditaram e me apoiaram em tudo, sempre fizeram um esforço para que o meu sonho passasse a ser real. Depois a minha família que também sempre me apoiou e os meus amigos que sempre estiveram lá para mim.

 

DES: No futuro quais sãos os teus objectivos?

Filipa Vale: O meu objectivo é conseguir que as minhas criações sejam conhecidas não só em Portugal, como no mínimo pelo resto da Europa. Também faz parte da minha lista, conseguir abrir e manter um atelier, pelo menos,  na capital de cada país. 

DES: Obrigado. 

06 de Fevereiro, 2021

ANA CRISTINA DIAS

Ana Cristina Dias nasceu em Lisboa e é licenciada em Pintura. É uma pintora que explora a beleza da natureza e a sua consciência, estimulando os nossos sentidos e sonhos.

A forma como “manifesta as suas paixões e as suas inquietações” através da pintura é uma verdadeira inspiração. 

O trabalho da artista faz-me lembrar o poema Cage Bird de Maya Angelou (1928 – 2014):

«Um pássaro livre

salta para as costas do vento   

e flutua ao sabor da corrente até esta acabar,

mergulhando o seu voo nos raios

do sol laranja

e atrevendo-se a reclamar o céu.»

 

Na entrevista, a pintura Ana Cristina Dias, fala-nos das suas poesias e da sua vida enquanto artista.

P03_2830a.jpg©José Calheiros

DES: Em que medida é que a sensibilidade é importante no processo criativo?

Ana Cristina Dias: De imediato, eu diria que sem a sensibilidade no processo criativo - à partida - a obra estaria condenada ao insucesso. Se a sensibilidade é a nossa capacidade de reagir aos estímulos, se o estímulo não for suficientemente forte para nos emocionar o processo criativo poderá nunca passar de uma ideia que ficou num bloco de notas. Talvez a sensibilidade esteja na verdade, sermos fiéis a nós mesmos e não a flashes exteriores que nos vão beliscando sem fazer doer.

 

 DES: Preferes a ideia ou a concretização? Ou deixas acontecer?

Ana Cristina Dias: Por costume faço sempre um planeamento, seja das minhas rotinas diárias ou no meu trabalho de pintura, as poucas vezes que deixei acontecer o resultado foi sempre trabalho para o lixo. Tenho um prazer muito grande no processo de execução, ver a ideia a ganhar forma, a ideia é essencial, sem ela é como se estivéssemos no alto-mar num barco sem remos.

 

DES: Qual o trabalho que mais gostaste de fazer até hoje? Porquê?

Ana Cristina Dias: Um mural em Alfama. Trabalho muito simples, o resultado foi muito gratificante. Sinto que com esse trabalho cheguei a muitas pessoas e que consegui passar a mensagem.

 

DES: O que consideras um trabalho irreverente na pintura?

Ana Cristina Dias: Um trabalho que se destaca pela diferença, que tenta quebrar regras estabelecidas, um trabalho ousado, que nos salta à vista ou porque o tema é delicado ou excessivamente forte. Ou pela forma como o artista deu corpo e tratou o tema. Se eu estiver diante de duas obras, uma que considero irreverente e outra um clichê, aquela que mais vou dedicar o meu tempo a apreciar é sem dúvida aquela que mais me sensibiliza. Eu posso me comover com uma jarra com flores, desde que a sua beleza me chegue ao coração e a técnica me arregale os olhos.

 

DES: O que mais te inspira no outro e porquê?

Ana Cristina Dias: Altruísmo, porque me comove.

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DES: Em termos de mecenato na Cultura, como vês a realidade actual?
Ana Cristina Dias:  Há muito pouca protecção dispensada às artes, sinto que estou a fazer uma longa travessia em autonomia, para o bem e para o mal.

 

DES: Qual foi a maior aventura  que te aconteceu num dia de exposição?
Ana Cristina Dias: Até hoje nada de diferente para contar.

 

DES: Qual foi a coisa que te disseram sobre o teu trabalho que mais te marcou até hoje?

Ana Cristina Dias:  Na generalidade tenho recebido palavras de incentivo, essencialmente palavras que me fazem acreditar que este é o meu caminho. Há uns anos  alguém  escreveu algo sobre um trabalho meu que  ficou na memória, ainda não sei se foi um elogio ou não, soou mal mas,  tenho a meu favor uma boa capacidade de desconstrução... "este quadro é uma paulada na Rego", provavelmente incomodou-me a palavra "paulada" porque me considero um ser apaziguador.

 

DES: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar? 

Ana Cristina Dias: Pôr a mochila às costas e só com o essencial. Levar no bolso uns trocos para o essencial e partir rumo a lugares longes dos grandes centros, Argentina, Peru, Colômbia.

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DES: Como vês o futuro da pintura, ilustração?

Ana Cristina Dias: Estamos a viver a altura Covid-19, enquanto pinto costumo ouvir rádio e é assustadora a previsão da crise financeira.  Gostaria de ter uma perspectiva mais optimista mas, seria muito naïf se o fizesse. A arte alimenta a alma, mas numa altura em que as pessoas estão mais preocupadas em alimentar a barriga, as perspectivas não são cor de rosa. À parte deste contexto que estamos a passar acho que as pessoas começam a estar mais presentes nos eventos e mais interessadas no que se vai fazendo. A net e as redes sociais deram um excelente contributo para desmistificar a ideia que a arte só era acessível a um grupo de pessoas.

 

DES: Há alguma coisa de que te arrependas muito?

Ana Cristina Dias: Sim, quando acabei o curso de pintura devia-me ter dedicado só a pintar e aproveitar a condição de filha sustentada pelo pai. Mas o desejo de ganhar o próprio dinheiro falou mais alto e durante muito tempo mantive-me longe da pintura, pergunto-me muitas vezes o que teria ganho com isso.

 

DES: Como ocupas os teus tempos livres?

Ana Cristina Dias: A fotografar, caminhar na natureza, apreciar pormenores da natureza, observar e ouvir os pássaros. Longos passeios por Lisboa, exercício físico (sou dependente), visitar museus, deveria dedicar-me mais à leitura que é uma boa ajuda no processo criativo.

 

DES: E o amor. O que é o amor?

Ana Cristina Dias: O que é o amor? É andar de mãos dadas em silêncio.

 

DES: Obrigado, Ana. 

 

05 de Fevereiro, 2021

CONFINS DA INFÂNCIA, DE LAINS DE OURÉM (ILUSTRAÇÃO DE ANA OLIVEIRA)

«De tudo o que falta

Só lembramos o pormenor

Após a morte.»

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©des

 

O livro “Confins da infância”, de Lains de Ourém, é um livro poético de actos de dar sem pedir; a verdadeira felicidade está em dá-la. É muito raro ver este posicionamento num livro de poesia.

Para o Lains, parece que para se ser de verdade é necessário, antes de tudo, ter infância de ninho; e depois, encontrar o verdadeiro lugar, a pátria e o “suor da própria mão”.

Lains conseguiu ser-se livre e esquecido de si próprio em cada poema; evidenciou a famosa frase de Jean-Paul Sartre (1905-1980): «o outro é o meu inferno»; seguir (n)a sua liberdade e (n)o seu esquecimento (eu existo mas depois existe o cheiro do frio, as chaminés, os pássaros, as madrugadas, os baloiços de corda). Devemos ser sinceros, mesmo por entre as descobertas ou travessias difíceis.

“Confins da Infância” é para ser lido como uma aventura de pensamento e vida, um encontro único e inefável com o nosso próprio ser. Importa reforçar que o poeta não simplifica o que não deixa de ser complexo.

As sensíveis ilustrações de Ana Oliveira ajudam na leitura e no encontro com a liberdade.

Boa leitura. 

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05 de Fevereiro, 2021

A MENINA DE BARRO, DE JORGE LUÍS CASTRO

“Fechei a minha janela, e deixei-te presa. (...) Vergonha temos de quem nos faz mal e nunca de quem nos ama.”

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©des

A Menina de Barro, do escritor Jorge Luís Castro, é transmissora da verdadeira razão de vida e testemunha de esperança. É um manifesto – num jogo metafórico –  a favor da renovação dos nossos actos, fonte de grandes sofrimentos e carências.  

O papel do “Luís” (personagem) representa a nossa sociedade fragilizada; põe-se em dúvida a sua importância. A figura da amiga, a menina de barro, suscita confiança, por causa – principalmente – da sua noção de memória. A amizade entre as duas personagens é de procura e, sobretudo, de transparência e fraternidade.

A memória da estória é muito bem pensada e esquematizada pelo escritor; a memória é 1 dia dividido em 7 capítulos (em numerologia o 1 significa início e o 7 significa consciência e renovação).

Boa leitura.

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©des

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Sinopse: Uma amiga nasce na vida de Luís, um pobre filho de caseiros do alto Minho nos meados do século XX, sob a forma de uma Menina de Barro, criada pelo belo acaso da Natureza. A Menina de Barro chega às livrarias como um manifesto contra o carácter descartável das relações humanas. Toda a metáfora sensorial, mental e física se debruça sobre este dilema actual, mostrando o carácter irreversível das nossas acções sobre todos os seus prismas: positivos e negativos. Se tudo o que fazemos é uma marca eternamente ressoante nos tempos, porque não deixarmos, nos momentos-chave da vida, o nosso tão pessoal manifesto de humanidade, compaixão e beleza?