Diário De Bordo De Um Lugar Quente II
Por André Mariano
A POESIA DO SAMUI ELEPHANT SANCTUARY
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A nossa segunda missão internacional levou-nos a Kho Samui, uma das ilhas a sul do Golfo da Tailândia. A exploração do corpo e as massagens características remetem-nos para o começo da escravatura e comercialização intercontinental de seres humanos. Mas nem tudo é mau, dizem eles.
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A cerca de 25 minutos do local da nossa hospedagem encontrámos o SAMUI ELEPHANT SANCTUARY: o primeiro e único local em toda a ilha que promove o turismo ético sobre estes animais mágicos e extraordinários. Obrigado Lek Chailert, és a verdadeira mãe de todos estes meninos. Além disso, para outros como a Revista Forbes a “Hero of the Planet”, em 2001, e para uns tantos outros a verdadeira essência da SAVE ELEPHANT FOUNDATION – Elephant Nature Park, em Chiang Mai. E a todos vós que continuamente contribuem para a ajudar elefantes como a Kham San.
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Após o primeiro contacto resolvemo-nos perder na parte velha da ilha, a mundialmente conhecida Fisherman´s Village Samui, em Bophut. Recordo que levantámos as narinas e respirámos odores que nos fizeram descer a cabeça até a uma realidade que não é a nossa. Terceiro mundo, dizem os outros. Mas fomos agraciados pelo mais bonito porto de barcos tradicionais tailandeses aos quais se referem como os longtail. Ainda a caminho de passo apressado e a suar do bigode, naquele destino que iria mudar as nossas vidas, fomos confrontados com diferentes pedidos de ajuda. Entre olhares vimos pulgas e carraças, mas foi a sarna que não nos deixou ficar indiferentes. Pobres amigos de quatro patas.
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Chegámos e batemos com o nariz na não-porta numa zona florestada. Até que um aceno de braços e troca de sorrisos validou a nossa passagem para o céu. Nesse mesmo dia, voltámos a estudar as questões guardadas para fazer a entrevista no dia seguinte. Tivemos direito a autorizações, esclarecimentos e o mais importante: a muito amor genuíno.
Ao chegarmos no dia seguinte à nossa nova casa, sentimos o cheiro a banana fresca e de outras tantas maduras, onde o voo da gaivota fazia voar os nossos cabelos e o seu assobio de quem estava a iniciar o período de nidificação desacelerava os nossos corações no sítio certo. Fomos fortes! E, não nos deixámos afetar pelo cheiro nauseabundo da avenida principal, um dos muitos indicadores de que a produção e o aumento do número de lixeiras a céu aberto são uma problemática a necessitar da nossa atenção. Tal como, o nosso olhar cada vez mais aguçado sobre a indústria da madeira que em tanto influencia a vida dos elefantes na ilha. E seguimos caminho!
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Já na zona de espera do santuário, fomos recebidos com o olhar ternurento de Kham San, uma das 6 fêmeas que vive no recinto e que à semelhança das suas companheiras de aventura, tem uma história comum e singular no meio das tantas outras escutadas.
Novas indicações sobre o processo de visita com uma chávena de café e máquina fotográfica em punho, começámos a recolha de imagens e testemunhos para a criação de um documentário. Entre tempos ouvimos uma explicação colectiva e fomos levados para conhecer individualmente cada elefante. Até que o tão esperado e primeiro momento de alimentação teve início, e as primeiras cedências de afeto de deram lugar ao começo das nossas relações. O dia foi reservado para eles e não podíamos estar mais felizes.
Em pequenos grupos caminhámos lado a lado com os tratadores, dos quais os elefantes reconhecem o tacto, com um saco de pano repleto de alimentos que inevitavelmente atraía a restante família ao nosso redor. E meninas como a Kham Sing, resgatada e em fase de recuperação da sua subnutrição, tiveram a oportunidade de serem confortadas com o nosso gesto.
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Antes de deixarmos as suas histórias e mergulharmos na realidade adjacente ao santuário, vimos brincadeiras e a socialização mais pura do grupo, mas foram os seus divertidos banhos que agarraram os nossos sorrisos. Nem acredito que fazem cambalhotas dentro de água, disse uma das turistas. E sem nos apercebermos, ficámos uns largos minutos a contemplar a sua beleza.
Até ao nosso até já.