FELIPE CAVALCANTI
A Barbearia Dom Felipe (Porto), do Felipe Cavalcanti é diversa na qualidade: profissional, perfeccionista, amiga, acolhedora e exclusiva.
O sonho de ter uma barbearia vem desde muito cedo. “Na minha barbearia a pessoa entra cliente e sai amigo”, refere Felipe.
As barbas fazem cada vez mais parte das nossas vidas. Dizem que é impossível escapar-lhes no mundo da moda e nós quisemos saber tudo.
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DES: Barbear é uma arte?
Felipe Cavalcanti: Penso que barbear é uma técnica. Pode até ser uma técnica dotada de ações criativas, mas por mais bonito que seja denominar como arte, acho que seria uma apropriação da palavra. Vejo a arte como um saber ligado à criação, à reflexão, à expressão de sentimentos ou ideias... que nos tocam ou incomodam, ou conseguem colocar-nos em outra dimensão estética e até, algumas vezes, espiritual. A arte é questionadora. A barbearia como profissão vem de uma linhagem antiquíssima, de uma história rica e respeitada em todo o mundo, de um conjunto de conhecimentos laborais aprendidos. Eu posso ensinar qualquer um a ser um barbeiro, mas jamais poderia transformá-lo num artista.
DES: Quando começaste a interessar-te pela arte de barbear?
Felipe Cavalcanti: A barbearia sempre rondou-me os pensamentos, sempre instigou-me. Minha relação com a barba vem desde cedo. Aos 12 anos nasceram-me os pelos no rosto e era o único da sala de aula com bigode e barba, não eram poucos e isso já chamava a atenção (risos). A partir daí sempre tive esse pensamento a dar voltas na minha cabeça. Profissionalmente trabalhava com vendas, mas não era satisfeito com a profissão. Quando pensei numa mudança foi aí que a ideia da barbearia surgiu e ainda não era o modismo que é hoje. Comecei a realizar cursos e qualifiquei-me profissionalmente para então empreender com a barbearia.
DES: Quais são os maiores desafios de um barbeiro? Ou de uma barbearia.
Felipe Cavalcanti: Acho que o maior desafio é sempre entender as necessidades do cliente. Cada um vem com um desejo em relação à imagem pessoal e este desejo pode estar relacionado a várias questões. Pode ser algo profissional, pode ser relativo à autoestima, pode ser relacionado com a tradição ou mesmo o oposto, uma vanguarda, uma inovação. Quando entende-se o que está por de trás do desejo do corte do cabelo ou da barba, consegue-se chegar na satisfação do cliente.
DES: O espaço e o tempo dinamizam a arte de barbear?
Felipe Cavalcanti: Em certa medida, sim. Se pensarmos em termos de espaço físico adequado, com toda segurança, higiene e equipamentos profissionais é fácil estabelecer essa relação. Em relação ao tempo, vejo que depende de cada profissional envolvido e da qualidade final do serviço. Mas, se pensarmos em termos da história, o espaço e tempo são aliados dessa profissão. O ato de barbear e de cortar o cabelo faz parte da própria história e está em todos os povos. Os barbeiros atendiam até mesmo nas praças, feiras e outros locais. É uma história muito rica e com um incrível desenvolvimento.
DES: A barba é um grande factor na moda masculina? A barba está na moda?
Felipe Cavalcanti: Novamente é essa história rica da barbearia que nos dá a resposta. A barba é uma composição masculina desde que o tempo é tempo. Conferia honra, poder, status, masculinidade, coragem, em alguns povos era mesmo o rito de passagem para a vida adulta. Ao longo do tempo, idas e vindas colocavam a barba ora como satisfatória ora como inadequada em função de um conceito ideológico e político, somados a isso a indústria de lâminas de barbear também contribuiu para um marketing do rosto limpo e as barbas passaram a ter um aspecto subversivo na sociedade sendo até reprovadas. Nos últimos dez a quinze anos surge um movimento de emancipação desses conceitos rígidos que até então passaram a vigorar. O “novo” homem passou a apreciar a sua própria vaidade, o seu prazer com a saúde e a estética, dessa forma o mercado voltado para o masculino teve um grande impulso, indo ao encontro dessa nova estética masculina e o homem voltou a ter grande satisfação em cultivar e cuidar da barba e isso se vê refletido na moda.
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DES: Tens algum trabalho que consideres especial?
Felipe Cavalcanti: O homem hoje valoriza seu barbeiro e muitas vezes além do lado profissional, o barbeiro torna-se um amigo e a cadeira do barbeiro é um divã também. Muitas histórias são relatadas e ouvidas com atenção e isso torna tudo especial. Da mesma forma, cada corte de cabelo ou barba são únicos.
DES: Em que medida é que a sensibilidade é importante no processo de barbear?
Felipe Cavalcanti: É extremamente importante uma vez que estamos a lidar com a vaidade e não somente, mas com toda a questão da imagem pessoal, profissional e questões psicológicas. Muitas vezes o barbeiro tem que também alertar para o que não é adequado (em relação ao corte de cabelo ou barba) em função de cada cliente e é preciso sensibilidade para perceber as sutilezas que estão envolvidas.
DES: Qual foi a coisa que te disseram sobre o teu trabalho que mais te marcou até hoje? Pela positiva.
Felipe Cavalcanti: Que na minha barbearia a pessoa entra cliente e sai amigo.
DES: Qual foi a maior aventura que te aconteceu ligada à barba?
Felipe Cavalcanti: Certa vez, uma senhora entrou na barbearia enquanto o marido estava a ser atendido para impedir que ele realizasse o corte de cabelo e da barba, com receio de que ele ficasse bonito e chamasse atenção das mulheres. Os dois começaram a brigar na barbearia.
DES: Qual foi a barba com o processo mais difícil de concretizar? Podemos saber; Felipe?
Felipe Cavalcanti: O processo mais difícil é com o cliente sem paciência. Às vezes, a barba sonhada leva tempo para crescer, demanda cuidados semanais, investimento em produtos adequados. Paciência e cuidado são os segredos.
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DES: Uma boa barba é...
Felipe Cavalcanti: Uma barba bem tratada.
DES: Um bom barbeiro é...
Felipe Cavalcanti: Aquele que não impõe o corte de cabelo ou estilo da barba ao cliente. Ele pode aconselhar, orientar, mas jamais impor ou realizar algo à revelia do cliente.
DES: Se não fosse a barba era...
Felipe Cavalcanti: Se não fosse barbeiro seria um profissional relacionado com a gastronomia, a minha segunda paixão.
DES: A pandemia prejudicou o teu trabalho?
Felipe Cavalcanti: A pandemia prejudica profissionais do mundo todo, em todas as áreas, em função do confinamento e por tudo o que desperta na crise económica. É uma equação dificílima de acertar porque o lockdown e outras medidas são importantes para refrear a propagação do vírus, mas ao mesmo tempo as medidas de apoio aos setores são insuficientes para manutenção das famílias e dos empregos.
DES: No futuro quais são os teus objetivos?
Felipe Cavalcanti: A pandemia ensina-nos que o futuro é muito incerto. Por enquanto, continuar a realizar o melhor trabalho possível na barbearia, com o nosso atendimento individualizado e personalizado e quando tudo estiver calmo, sem essa pandemia, aí sim... pensar em projetos futuros.
DES:Obrigado.