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CULTURA | MUNDO | ENTREVISTAS | OPINIÃO

26 de Novembro, 2019

Nuno Camarneiro

Nuno Camarneiro nasceu na Figueira da Foz e é autor duma obra multifacetada.

 

Em 2011 publicou o seu primeiro romance, No Meu Peito Não Cabem Pássaros. Escreveu o livro infantil Não acordem os Pardais, com ilustração de Rosário Pinheiro.

 

Publicou na prestigiada Nouvelle Revue Française na rubrica Un mot d’ailleurs.  Em 2012, foi o vencedor do Prémio Leya  com o romance Debaixo de Algum Céu (traduzido em italiano). O Fogo Será a Tua Casa é a sua obra mais recente.   

 

ESCREVER E LER

SÃO FORMAS MUITO EFICAZES DE CALÇARMOS SAPATOS ALHEIOS


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©Jorge Simão

 

DES: O que não cabe no teu peito?

Nuno Camarneiro: Há muitas coisas que não cabem no meu peito – Injustiças, desigualdades, ódios, restrições às liberdades individuais. Se tivesse algum talento ou aspiração política talvez fundasse um partido, como não tenho limito-me a escrever.

 

DES: Como percebeste que querias estar ligado à escrita romanceada?

Nuno Camarneiro: Comecei a ligar-me à escrita sem perceber, simplesmente lendo, que continua a ser para mim a forma mais profunda e honesta de participar da literatura e da humanidade. Ler, ouvir, receber o passado e transportá-lo para o futuro, no fundo é disso que se trata, lutar ao lado do pensamento e da vontade contra a morte e o esquecimento.  

 

DES: A escrita ajuda a aumentar o conhecimento do nosso eu?

Nuno Camarneiro: O “eu” só se consegue definir a partir do confronto com o outro, com o que lhe é estranho, com o que é diferente. Escrever e ler são formas muito eficazes de calçarmos sapatos alheios, de exercitarmos a função empática e sairmos um pouco de dentro de nós para melhor percebermos o que somos ou o que queremos ser.

 

DES: Preferes a ideia ou a escrita?

Nuno Camarneiro: A ideia é sempre sedutora, uma pulsão sem restrições, uma vontade com a mania das grandezas. A escrita, a concretização dessa vontade, fica sempre aquém, mas o processo ensina-nos muito e traz-nos novas ideias, soluções necessárias para resolver o confronto entre o imaginado e o real.

 

DES: O que mais te inspira no outro e porquê?

Nuno Camarneiro: Inspiram-me as diferenças e também os pontos em comum. Como os Homens são tão diferentes entre si (no que fazem, no que acreditam, na forma como pensam) e, ao mesmo tempo, tão semelhantes (no que sentem, no que temem, no que desejam). A literatura é umas das formas artísticas que melhor explora essa tensão entre a diferença e a proximidade.

 

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©Jorge Simão

DES: Há lugares de nada?

Nuno Camarneiro: Talvez todos os lugares sejam “de nada”, cabe-nos a nós vesti-los de memórias e significado. Pode ser uma estação de comboios, uma rua escondida ou a casa de infância, somos nós que desenhamos os nossos próprios mapas da memória.

 

DES: Onde tens as melhores ideias? 

Nuno Camarneiro: Muitas vezes nos livros dos outros, ou nos filmes, ou peças de teatro. Outras vezes em sonhos, dormindo ou acordado.

 

DES: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar? 

Nuno Camarneiro: Arranjar uma resposta para essa pergunta, encontrar uma causa fundamental e tangível.

 

DES: Há alguma coisa de que te arrependas muito?

Nuno Camarneiro: Há muitas coisas de que me arrependo um pouco, mas não tenho erros ou acertos tão grandes que mereçam o remorso ou o saudosismo.

 

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©Jorge Simão

 

DES: Qual é o teu livro preferido? Ou autor?

Nuno Camarneiro: Tenho dez, ou vinte, ou cem, mas, tendo mesmo de isolar um, talvez o Ecclesiastes, cuja autoria alguns atribuem ao rei Salomão e onde está escrito tudo o que de mais sábio pode ser dito sobre esta nossa condição de sermos homens e mulheres, conscientes e mortais.

 

DES: O fogo é...

Nuno Camarneiro: O trocadilho é fácil, mas verdadeiro, é amor que arde sem se ver. É o que leva as melgas e os mosquitos a queimarem-se numa lâmpada acesa, e os homens também. 

 

DES: Obrigado.

 

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