Rodrigo Saraiva
Rodrigo Saraiva é actor camaleão (dos grandes) e argumentista. Nasceu em 1982, tem sentido de humor, porreiro e é pai. Estreou-se aos 12 anos na peça Jasmim e o Sonho do Cinema de Filipe La Féria.
Quem não se lembra da canção Coração de Papelão? Do Rafa? Do Jacinto Sousa? Do Pimentel? Então é um ovo podre.
ACERCA DE RODRIGO"What's wrong with being in the shadows of giants?
The only thing bigger than a giant is his shadow."
(in Facebook)
© Inês Dionísio
1910 VS 1982? 1982. Seria má gestão de recursos preferir a implementação da república em detrimento do meu nascimento. 82 é uma colheita simpática, tive sorte.
Palco VS Bastidores? Ambas. Um no avesso do outro, complementares que são. A purga silenciosa do primeiro, a ruidosa pressa do segundo.
Cético VS Confiante?
Cético veterano mas incrível a disfarçar. Acho graça a alguns estigmas que cristalizam com o passar do tempo. Passo, com relativa facilidade, por confiante. Valências de um bluff com pernas.
Clarividência VS Cegueira? Clarividência. O mais bonito presente envenenado de todos.
Memórias VS Acasos? Acasos. A memória é um velho preguiçoso que invoca mais do que mexe as peças do tabuleiro. Os acasos são poeticamente sumarentos até se tornarem, também eles, memórias.
Som VS Escrita? Escrever é sexo com amor. Não é possível estar mais despido do que a escrever e esse exercício de vulnerabilidade é das coisas mais fascinantes que faço, sem calendário, sem qualquer regime de obrigatoriedade. Mas a música é o derradeiro preliminar para tudo e tem um lugar peculiar no pódio. Proteína e guarnição, em quantidades iguais.
Primeiro Capítulo VS Último Capítulo? Primeiro capítulo. É-me impossível renegar o que tenho de infantil e de curioso. Gosto de desfechos, por definição, mas começar coisas convoca o o nosso máximo brio. Gosto de me esforçar e do sabor disso, animicamente.
© Rui Carlos Mateus
Lá Fora VS Cá Dentro? "Sem paredes pelo meio" serve? Quando cheguei os homens tinham já fronteiras erguidas. Mas não as sinto, efectivamente. Qualquer sítio é um sítio.
Enlatados VS Naturais? Naturais. Não há nada de convidativo, ainda que para fins de conservação, que seja proveniente de um ambiente de clausura. A analogia é fraquinha mas tem uma margem de interpretação que vai de fruta a pessoas.
Insólitos VS Políticas? Insólitos. As políticas são sobrevalorizadas e altamente separatistas. Os insólitos, e isto é estatístico, tendem a aproximar-nos.
Zoom VS Zapping? Zoom. De fora pra dentro, de dentro pra fora. Se for sinónimo de nos questionarmos justifica-se que nuca mais acabe. Zapping é o reverso da moeda, é a distracção auto-infligida.
Ideologia VS Identidade? Identidade. É a única imutável de ambas. A identidade é uma valência estanque, sem flutuações. A Ideologia puxa-nos por um braço e vai.
Pessoa VS Eça? Fácil. Pessoa. Com todas as pessoas que trazia. Em linguagem de ping-pong o resultado do embate destes dois chamar-se-ia "capote".
Hoje VS Amor? Os dois em conchinha no mesmo envelope. Nada a menos, nada a mais.
Medo VS Conquista? Conquista do medo. Possivelmente a maior pedra no sapato do bicho que somos. Aos ombros do medo, por causa do medo, em nome do medo fazemos burrices inqualificáveis. Piora quando o medo se alastra à hora de as olhar de frente. Trabalhar o medo é a varrer a casa que somos.
Coração VS Cérebro? Acho imbecil que vivam em oposição. Acho imbecil a ideia de nos dividirmos em duas tribos e duas formas de estar. Lugares comuns à parte, parece-me evidente que vivemos emparedados nos empréstimos de um ao outro.
© Alfredo Matos
Poesia VS Reflexão? Ombro com ombro. Que uma ampara a outra sem fazer perguntas. Escrever avulso, sem matéria prima, é crime.
Abraços VS Rede Sociais? Abraços. Nada é mais eficaz a medir tudo o que somos do que um abraço franco. Mas falo de pessoas, não de projecções romantizadas de estranhos com quem interagimos.
Crianças VS Adultos? Crianças. Os adultos (os que se assumem assim) são cinzentas criaturas pavlovianas. Raramente lêem as lombadas das caixas de cereais e têm balizas diferentes das minhas. As crianças ganham em absolutamente tudo.
Liberdade VS Colapso? A liberdade é um conceito bem tratado nos livros. Pressupõe menos num mundo que impinge mais. Exige que nos civilizemos o mínimo possível mas ninguém abre mão do Polyban. Já o colapso é absurdamente tridimensional e está a ter lugar agora. Chega sob a forma de avanço tecnológico (no que tem de mau) e sob esta estranha massificação da invidualidade. Da intolerância. Somos um rascunho interessante mas, como bicho, fraquinho.
Obrigado, Rodrigo.