Rosa Vaz
Por Amaro Figueiredo
Rosa Vaz nasceu em Malange, Angola. Desde de cedo manifestou o gosto pela Arte: desenho, pintura, dança, música e poesia. É artista plástica, dedicando-se essencialmente à pintura. É também promotora cultural, ilustradora e escreve poesia. Pertence a vários grupos de promoção/divulgação cultural: Projecto Artáfrica da Fundação Calouste Gulbenkian; ACAPL (associação Cultural de Promoção da Cultural Portuguesa e Lituana; C. E. M. D.; Projecto Porlith; Rizoma (Guimarães).
Expõe desde há 30 anos e está representada em várias colecções.
O Amor é assim...
Não precisa de coisas caras
Nem de promessas fúteis
O Amor é de pele...
de suspiros...
de silêncios e luares
de passos lado a lado
sem espaços vazios e ocos
é paz, serenidade
olhares de cumplicidade
O Amor, recria cada cor
cada som, cada palavra
é o silêncio na gargalhada
compassada do coração
(continua no final da entrevista)
©RV
DES: Quando é que surgiu a vontade de pintar?
Rosa Vaz: A pintura é um estado de alma, nasce connosco, vive connosco, tal qual outra manifestação da nossa mente. É uma forma intrínseca de comunicar. Sem a Pintura não conseguiria ser eu própria!
DES: O que mais te inspira e porquê?
Rosa Vaz: A magia da vida. A simplicidade das coisas. O amor verdadeiro, pela vida e que dá vida. A magia que acende olhares e sorrisos, e que também nos faz chorar. Os pequenos detalhes da natureza que acorda e adormece; o silêncio, o mar. (pausa) A Magia do meu filho, de olhos doces, presente de sorriso pegajoso, a magia dos meus amigos fantásticos que estão sempre ao meu lado e me motivam e apoiam nos meus caminhos. Eles são a minha verdadeira família, a família de afetos, de amores, porque já sabemos que muitos parentes, não são a nossa família, só são parentes de papel. Transpor isso em tela é fantástico, é uma forma de comunicar as minhas viagens interiores por este universo.
DES: E como é o teu processo de pintura. Tens algum ritual? Não há horas para pintar, nem dias?
Rosa Vaz: A minha mente está sempre a criar, não vejo o mundo como vocês, tento sempre adicionar uma cor aqui ou ali, ou recriar lugares, momentos; quando tenho aquelas reuniões “chatas” onde não se aprende nada, ou almoços/jantares (pausa, sorri) daqueles que temos de ir, são oportunidades fantásticas para “pescar” detalhes à minha volta, registar no meu book discretamente e divagar para uma criação no meu imaginário. Normalmente pinto temáticas, ou seja, se começo a fazer um quadro sobre o Abraço, surge uma série, e lá aparecem 10, ou 20 quadros sobre o abraço. Ando sempre com aguarelas, pinceis, papel, caderno de registos, canetas e lápis na carteira. Pinto em qualquer lado, a qualquer hora. Claro que muitos dos pequenos registos que faço diariamente viram telas pintadas mais tarde – quando chego ao sossego do meu atelier. Não há horas, há motivos, não há rituais, há motivação e alegria para deslizar as espátulas e os pinceis pelas telas e construir conversas coloridas de luz, cor e amor. O amor está sempre em tudo que faço.
DES: Qual é a parte mais difícil de uma obra?
Rosa Vaz: Tomar a decisão que está terminada. Às vezes apetece continuar, continuar, como se fosse um mural!!
DES: Qual o trabalho que mais gostaste de fazer até hoje? Porquê?
Rosa Vaz: Difícil de responder. Vou destacar alguns momentos: a Exposição para a Expo 98, ilustração de livro, mural Cerâmico,num restaurante em Braga, a obra para Vilnius, num convite para participar na Comemoração do Dia de África, a Exposição sobre o Amor e o Feminino,-CONVERSAS NO FEMININO- o ano passado, em Oliveira de Azemeis, o meu livro de poesia -PELE DE LUA-, uma homengem ao Amor, este ano - NO FEMININO - em Barcelos, na Galeria Municipal, infelizmente está suspensa devido ao coronavírus.
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DES: Qual foi a maior aventura que te aconteceu num dia de exposição?
Rosa Vaz: Foi no final de 2018, Novembro, tinha saído do hospital de uma cirurgia a um cancro de mama e fui inaugurar a minha 1ª Exposição Comemorativa dos meus 30 Anos de Carreira, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, mal me aguentava em pé, ainda levava um dreno de cada lado, tinha a sala cheia de sorrisos e abraços. Só meia dúzia de pessoas sabia a minha realidade, as outras, assistiram ao meu discurso e sorriso do costume, só estranharam que eu não desse abraços a ninguém, principalmente os mais pequenos que estão habituados a saltar para o meu colo, para roubar abraços e mimos.
DES: Tens algumas obras que não vendes? Por ligações sentimentais?
Rosa Vaz: Sim. Algumas não vendo, porque representam histórias do meu percurso. Gosto de me sentar a olhar para elas e viajar no tempo ao som da música.
DES: O que podemos esperar de um projecto em que estás a trabalhar?
Rosa Vaz: Podem esperar sempre muita alegria, muita cor e magia de diálogos intrínsecos, mas que se projectam na alma de quem o observa, com o olhar do coração e sensibilidade.
DES: Qual foi a coisa que te disseram sobre o teu trabalho que mais te marcou até hoje?
Rosa Vaz: Ver alguém chorar frente a um quadro meu, de emoção, porque viu a vida dele no quadro. No final, comprou o quadro e ao longo dos anos virou colecionador da minha obra.
“A magia do seu traçado reporta-me para Vieira da Silva. Nunca deixe de pintar, nem perca esse sorriso mágico.’’
DES: São importantes as raízes angolanas?
Rosa Vaz: São importantes, porque preenchem as minhas memórias de infância, com coloridos, vermelhos poderosos, o azul do mar, os olhares e sorrisos sempre grandiosos e brilhantes, que quase saltam dos rostos. Constroem diálogos sorridentes, de abraços sem tempo, correrias de tempo que deslizam entre os pinceis para contar histórias coloridas.
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DES: Eras capaz de deixar de pintar amanhã?
Rosa Vaz: Não. Impossível. Só se ficar em coma, doente! E mesmo assim, garanto que ao acordar pediria logo tintas e papel! (risos)
DES: O que gostavas de fazer que ainda não tiveste oportunidade de concretizar?
Rosa Vaz: Pintar um mural cerâmico numa rua.
DES: O que é o amor?
Rosa Vaz: O amor é a magia dos afetos que temos dentro de nós e que faz com que outros seres fiquem contagiados e acreditem que vale a pena partilhar sorrisos, abraços, vidas, carinho, momentos de felicidade. Quem não tem Amor próprio não consegue amar ou fazer-se amar.
DES: Qual é a tua relação com o tempo e com a escrita?
Rosa Vaz: Tento estar em paz com o tempo, pois como sou professora, pintora, escritora, promotora cultural, às vezes é difícil controlar o tempo. Mas com organização de tarefas vou conseguindo. Quanto à escrita, escrevo poesia, editei o meu primeiro livro de poemas - PELE DE LUA - pela Comemoração dos meus 30 anos na Arte.Escrever é pintar viagens interiores, só que, com palavras.A pintura e a poesia vivem lado a lado na minha criatividade...há poemas que me levam a pintar quadros, e há quadros que me levam a escrever poesia!
DES: Como vês o futuro da pintura?
Rosa Vaz: A pintura será sempre uma representação do estado actual das sociedades que determinam os estados de alma dos criativos.
O Amor é frágil...
precisa de cuidados
O Amor é Alegria de viver
O Amor é para quem acredita
quem luta pela Paz
O Amor é a pele
que sendo tua também é minha,
sendo minha é tua,
sendo nossa
é o olhar que sente
em cada pensamento
O Amor é um encantamento
suave, eterno, delicado
que cria pontes
no meio de tempestades
O Amor,não é para fracos...
O Amor, é assim...
um todo sem fim!!
Rosa Vaz