Samuel F. Pimenta
"Foi um exercício muito bonito, responder a estas perguntas."
Não é fácil escrever sobre o Samuel. Isto significa o seguinte: pode não ser a melhor nem a mais sensível maneira de o fazer. O Samuel trouxe-me a magia dos gigantes e dos anões, a mais sublinhar ligação do bem e do mal. Passaram 8 anos.
O Samuel é todas as formas de amor. O Samuel é todas as formas sociais. O Samuel é um livro cheio de vida, tem a iluminação dos Grandes. É grande. O Samuel é um país inteiro. O Samuel é português.
"Não estou sozinho no mundo. E tornar o mundo melhor começa comigo.
Por isso assino petições, a exigir aos governos que libertem activistas e
presos políticos. Por isso junto a minha voz às que defendem os direitos da natureza.
Por isso uso as palestras onde vou e as apresentações
que faço para falar de direitos humanos."
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Começou a escrever com 10 anos e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Em 2012, venceu o Prémio Jovens Criadores na vertente de Literatura, promovido pelo Governo de Portugal e pelo Clube Português de Artes e Ideias, com o poema “O relógio”. Recebeu, em 2014, a Comenda Luís Vaz de Camões, atribuída pela “Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas”, no Brasil, assim como o Prémio Liberdade de Expressão 2014, atribuído pela Associação de Escritores de Angra dos Reis, Brasil.Tem participado em diversas conferências e encontros literários nacionais e internacionais e tem colaborado com publicações em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Galiza. Em 2015, foi um dos vencedores das Bolsas Jovens Criadores, do Centro Nacional de Cultura, para a realização de uma residência artística e a escrita de um novo romance. Em 2016 viu, pela primeira vez, uma obra sua adaptada a teatro, “O relógio”, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, em Lisboa. “Iluminações de uma mulher livre” é a sua mais recente obra, publicada em 2017 pela Marcador. A obra foi escrita em Pinheiro (Carregal do Sal, Viseu).
©Arquivo Pessoal do Autor
Alcanhões VS Pinheiro?
Alcanhões. É a minha terra.
Ler VS Escrever?
Para mim não existe uma coisa sem a outra.
Poesia VS Prosa?
A poesia é o destino que a prosa procura.
Adjectivos VS Verbos?
Verbos. Porque são mais orgânicos, estão na natureza. Os verbos estão vivos, movem-se. Parecem-me mais inaugurais, mais nucleares, e por isso neutrais, sem a carga que a linguagem humana dá ao mundo (apesar de fazerem parte da linguagem). Creio que até os animais compreendem os verbos. Uma semente eclode, a árvore cresce. Uma pedra cai, o rio flui. O humano nasce, caminha. Os adjectivos estão carregados de julgamento. Bom e mau, feio e bonito. Pergunto-me se a fase da evolução da linguagem em que nasceram os adjectivos corresponde à noção de dualidade que passámos a ter do mundo. Certamente sim... Mas não lhes podemos escapar, aos adjectivos. Eu próprio, escolhendo os verbos, justifico essa escolha recorrendo aos adjectivos.
Escolhido VS Escolher?
Em nome da minha liberdade, escolher. Até para se ser escolhido.
Ágora VS Relógio?
Na verdade, nenhum deles. Espero que nos libertemos de todas as formas e ideias que aprisionam a nossa natureza.
Vida VS Morte?
Só posso escolher vida, ela está em tudo. E continua e persiste. E vence, sempre.
Nomes VS Números?
Gosto muito de ambos, como símbolos. Os nomes transportam histórias e memórias. Os números são códigos que nos ajudam a desvendar o Universo.
©Arquivo Pessoal do Autor
Imaginar VS Memórias?
Imaginar é um facho que arde sobre as nossas lembranças.
Omnisciente VS Lengalengas?
Associo a omnisciência à unidade que tudo sabe, porque é tudo. É uma inteligência universal que permeia tudo o que existe. Chamam-lhe muitas coisas, Deus é um dos nomes que lhe dão. Gosto de imaginar que, um dia, chegaremos lá. Melhor dizendo, que chegaremos cá, porque, se somos natureza e Universo, trazemos tudo dentro de nós, e essa inteligência também nos permeia, foi ela que nos formou. É a força da Vida, afinal. Enquanto isso, vamos criando linguagens, lengalengas, histórias, porque estamos à procura.
Pergunta VS Resposta?
A pergunta, sempre. São as perguntas que nos motivam a percorrer o caminho.
Rua VS Casa?
Casa. Com janelas para a rua.
Nós VS Os Outros?
Nós. Como reivindicação, até. Vivemos num tempo de crescente individualismo, com as redes sociais a potenciar isso, e já se começam a ver alguns efeitos que merecem a nossa atenção: veja-se o aumento de políticas que lembram o início das ditaduras do século XX, na Europa, nos EUA, na Rússia. "Os outros" surgem sempre como indivíduos separados do "eu", sendo que o "eu" é muito melhor que "os outros", o que é pura ilusão. E "os outros" são os refugiados, a comunidade lgbtqi, os ciganos, os imigrantes, os negros. Ora, "os outros" são o que o "eu" vê quando se olha ao espelho. Rejeitar "os outros" é rejeitar o "eu". É uma automutilação. Cresci numa vila pequena, maioritariamente cristã, e hoje compreendo o papel que o cristianismo teve na minha vida (para me educar, para me dar cultura, pois não sigo nenhuma religião em particular), dotando-me com um forte sentido comunitário. Os problemas dos outros são os problemas de toda a comunidade. A humanidade é uma só, as separações que existem são criações, são ideias. Mas a humanidade é uma só. Somos nós. E é este nós que eu reivindico, é nele que eu acredito. Não estou sozinho no mundo. E tornar o mundo melhor começa comigo. Por isso assino petições, a exigir aos governos que libertem activistas e presos políticos. Por isso junto a minha voz às que defendem os direitos da natureza. Por isso uso as palestras onde vou e as apresentações que faço para falar de direitos humanos. Por isso escrevo, de alguma forma.
Tolerância VS Preconceito?
Tolerância. Até com quem é preconceituoso, que é o mais difícil. Não no sentido de permitir o preconceito, mas de ser compassivo com a pessoa menos esclarecida. E tenho de voltar à religião, aqui - que ela ainda nos determina muito, não há como negá-lo, seja-se religioso ou não. De algum modo, é um legado cristão, esse posicionamento compassivo. Dois mil anos depois, a proposta do cristianismo continua a ser revolucionária, porque nos obriga a sair de nós para amar os outros. Há coisa mais desafiante do que essa?
Segredo Vs Silêncio?
Silêncio.
Abraços VS Facebook?
Abraços, obviamente. Porque existem.
©Arquivo Pessoal do Autor
Sonho VS Realidade?
Sonhar, conhecendo a realidade.
Feelings VS Partir?
Em vez de feelings, prefiro a palavra intuição.
Estórias VS Amores?
Amores, que histórias sem amor são estéreis.
Cartas VS Viajar?
Escolho ambas as palavras, cartas e viajar, porque para mim representam o mesmo: uma possibilidade de encontro com outras pessoas.
Obrigado, Samuel