Selma Carvalho | ENCONTRA A HARMONIA NAS MOSCAS
Selma Carvalho é designer gráfica, coach profissional, joalheira e formadora na área do visual merchandising. Criou a marca User Jewels de joalharia e acessórios de moda contemporânea com uma narrativa elaborada, figurativa e com sentido interventivo. Atualmente tem duas coleções: “Liberdade e Posse” e “Under Nature”.
“todas elas são interventivas ao ponto de provocarem no espectador um misto de sentimentos, ora porque materializo moscas em anéis, alfinetes de peito, colares e pulseiras, ora porque esculpo caras disformes a saírem de flores. Porém todas estas peças são lindas aos olhos de quem se identifica com a marca, e uma coisa é certa, não tenho nenhuma que seja indiferente a olhares alheios”, revela Selma.
O teu projeto tem início numa relação entre a tua origem e a liberdade?
É a partir das minhas peças que me expresso e defino a minha identidade como autora. A liberdade ou a libertação fazem parte da história dos países que fazem parte da minha história, Angola e Portugal, por isso a noção de liberdade é um tema que me interessa muito, é tão profundo e complexo, ao ponto de o ter como título na minha primeira coleção, “Liberdade e Posse”. Este tema, levou-me a explorar vários sentidos de liberdade, levou-me a conhecer movimentos históricos de libertação, a explorar de como vivemos a liberdade ao longo da nossa evolução, a compreender que noção temos nós de liberdade atualmente e assim cheguei a uma questão que aborda um sentido quase contraditório que é: até que ponto a LIBERDADE de TER nos aprisiona?, isto também me levou a questionar o valor da joia que têm muitas vezes um aspeto inacabado e a presença das moscas é uma forma de acentuar essa questão de valor, também usar outros elementos formais como as mãos que está relacionado com a ideia de ter, agarrar, rasgar ou dar e os pássaros que num sentido lato representa a liberdade mas personifico na personagem do homem pássaro.
Como crias um ambiente de trabalho tranquilo?
Penso que a música é o elemento indispensável para me proporcionar o ambiente ideal, também sentir-me tranquila comigo mesma ou estar rodeada que pessoas com boas energias criativas, pois o trabalho de joalheiro chega a ser um pouco solitário, por vezes gosto dessa solidão e aí trabalho no meu atelier em casa, mas preciso também de estar em contacto com outras pessoas que estão no mesmo desafio, que emanam uma energia fazedora e aí também trabalho num outro atelier com outros designers.
Sempre pensaste que a joalharia seria o teu futuro ou tinhas outros planos?
Sempre gostei de moda e de várias atividades relacionadas com este setor, cresci a sonhar ser estilista, depois os sapatos também eram uma paixão, tinha cadernos cheios de desenhos de calçado, e ainda passei pelo design de calçado. A joalharia surge muito mais tarde e quase por brincadeira quando fiz um workshop de iniciação de joalharia, é uma arte difícil mas desafiante tecnicamente, fui percebendo que conseguia expressar as minhas ideias a partir das peças e fui ganhando cada vez mais gosto, seguiram-se 6 anos em modo de hobby e de aprendizagem, mas foi quando finalizei, o curso de joalharia de moda, na LSD, que tudo me pareceu fazer sentido. O Curso foi ministrado pelo designer Valentim Quaresma (que é uma referencia para mim) e a sua equipa, neste curso tivemos uma abordagem completamente diferente de outros cursos que tinha feito até ao momento, pois não era tão concentrado na técnica mas sim no processo criativo e nos materiais, também me deu uma noção mais realista de como lidar com este mercado. O que me fez sentir mais confiante para avançar com a minha marca.
Como costumas desenvolver o processo criativo?
As ideias ou os temas que represento, partem muito do que observo, principalmente temas muito relacionados com a natureza humana, gosto de observar como nos comportamos perante algumas situações e perante as coisas. Então surgem frases ou imagens como visões que depois trabalho num mapa mental, onde associo conceitos que são o ponto de partida para um moodboard onde procuro imagens, materiais e personagens referentes aos conceitos que encontrei anteriormente, em seguida faço esboços e maquetes. Este processo é importante para mim, pois dá-me a possibilidade de manter uma coerência formal na coleção.
Existe alguma peça que te orgulhes mais do que outras?
Orgulho-me de todas, porque é desafiante conseguir materializar as minhas ideias, no entanto, destaco uma pulseira em acrílico cravejada de caras, por várias razões, pelo seu significado pois ela representa as muitas identidades que incorporámos em nós, porque foi das primeiras peças que fiz para a marca, porque essas caras surgiram de forma espontânea e também porque tecnicamente aprendi muito ao executá-la.
Qual o melhor conselho criativo que já recebeste?
Foi me dado pelo meu marido, que foi sempre um apoiante incondicional, que sempre me disse para ser fiel às minhas ideias e não sucumbir ao lado mais comercial do gosto comum. Se bem que este meu percurso profissional na joalharia tem sido uma aprendizagem constante e tenho tido a sorte de estar rodeada de pessoas que me têm orientado e que em têm aconselhado de forma muito sábia.
Se te concedessem um desejo, qual seria?
Acredito que o desejo ou o sonho de alcançar algo, nunca nos é concedido como uma dádiva divina, porque na verdade não depende de ninguém a não ser de mim, e por isso quero continuar a realizar-me a expressar-me nesses sentidos de liberdade que tenho encontrado, esta é a minha forma, é meu sentido de vida e que espero que outros se identifiquem com ele.
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