Sophia, "para lá do jardim e dos muros da casa"
©Carlos Gomes
Deixei de "acreditar" na Sophia com O Rapaz de Bronze. A escrita infantil da Sophia é nostálgica (magoou-me e nunca foi uma questão de tempo!), é uma jarra de flores vazia num jardim sem ninguém, "(…) uma casa toda feita de vidros como uma estufa”, as mãos sujas de barro, uma tulipa sozinha e um sonho que desaparece e que ninguém aceita. A Sophia fez-me sentir um pouco ridículo nas suas antíteses, nas suas casas. Não me senti igual, senti-me um miúdo ainda mais melindrado com o amor, com os sonhos, mesmo quando temi a mudança do 'eu'.
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia...
"para lá do jardim e dos muros da casa"©Carlos Gomes
Mas o que acontece efetivamente por detrás dos muros da casa?
Excertos de 'A Noite de Natal', 'A Floresta', a 'Fada Oriana', 'Menina do Mar', 'Oriente' e o 'Cavaleiro da Dinamarca' planeiam a viagem de Sophia. Os protagonistas são crianças solitárias que querem descobrir o que está para lá dos muros da casa, realçando as suas sombras subtis num céu nublado.
Fadas, anões e o mar...
A ilusão, o medo, o nada...
“Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito.”
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Sophia sobe ao palco pelas vozes e movimentos dos actores Joana Isabella, João Amorim, João Santos e Margarida Sousa, encenação de Isabel Craveiro; é a mais recente produção da companhia Teatrão (Coimbra).
Sophia – escritora – ganhou vida em Sophia pela sensível cenografia de Filipa Malva, uma sensação de fluidez, cuidada, com a beleza dos pormenores. Apenas.
Desculpa, Sophia.